Bom,
ao tratar de assunto tão delicado, devemos iniciar categorizando o que
concebemos como monogamia:
Etimologicamente,
a palavra se forma a partir do Grego MONOS, “um, único”, mais GAMEIN, “casar”.
MONOGAMIA,
na sociedade capitalista, diferente do que a ideologia burguesa/patraircal
apresenta, não é a livre vontade de se relacionar afetiva-sexualmente apenas
com uma única pessoa, como “naturalmente” acontece.
Para
compreendermos o significado que a palavra monogamia traz consigo, desde sua
origem, é necessário uma contextualização histórica:
A
relação monogâmica, isso é, a noção de propriedade de um indivíduo sobre o
outro, funda-se na transição para a sociedade de classes, aquela em que uma
parte da sociedade, a classe dominante, explora a outra e majoritária parte da
sociedade.
A
passagem histórica de sociedades comunais para sociedades de classes, traz
consigo o surgimento da propriedade privada, do trabalho alienado (explorado),
e um instrumento especial criado pela classe dominante para organizar e aplicar
cotidianamente a violência, o Estado.
Nesta
transição, as relações históricas até então concebidas em carater coletivo,
como o cuidado das crianças, passam a adquirir a condição de relações PRIVADAS.
Fica restrito ao “lar” o espaço de atuação das mulheres e todas as suas
atividades ligadas ao âmbito da reprodução da vida (cozinhar, limpar a casa,
cuidar dos filhos, etc)
Com
esta conformação social, compete aos homens o “provimento” de suas mulheres; e
estas devem “servir” aos seus senhores, em uma relação de poder. Aos indivíduos
masculinos cabe o poder da propriedade privada, serão eles os maridos. Às
mulheres cabem as atividades que não geram a riqueza privada: serão esposas ou
prostitutas.
A
família, tal como hoje a conhecemos, não surge como resultado do amor entre os
indivíduos. Surge como a propriedade patriarcal de tudo o que é doméstico.
Ao
referenciar o poder do homem, e a separação dos espaços públicos X privados, a
família monogâmica passa a moldar o que é ser homem e o que é ser mulher
(categorizando os gêneros masculino e feminino) em nossa sociedade. Tal fato
interfere inclusive no desenvolvimento da sexualidade de ambos: ao homem
compete, a todo momento, afirmar sua sexualidade e enquanto a mulher deve
negá-la, condicionando o sexo apenas para fins reprodutivos: gerar herdeiros
que possam perpetuar a acumulação de riqueza da família. Daí a necessidade da
garantia de que o filho será mesmo do marido através da exigência da virgindade
da esposa – por isso cabe ao primogênito masculino a herança.
“Para
assegurar a fidelidade da mulher e, por conseguinte, a paternidade dos filhos,
a mulher é entregue incondicionalmente ao poder do homem. Mesmo que ele a mate,
não faz mais do que exercer um direito seu.” (Engels, 1979: 68)
Tão
falsa é a ideia de que a monogamia é a relação sexual com apenas uma pessoa que
desde sua origem é permitido ao homem o rompimento deste “contrato”. O chamado
“heterismo”, aceitação social de que apenas os homens mantenham relações
extra-conjugais, traz a reboque as relações de prostiruição em que a existência
da escravidão junto à monogamia, a presença de jovens e belas cativas que
pertencem, de corpo e alma, ao homem, é o que imprime desde a origem um caráter
específico à monogamia que é monogamia só para a mulher, e não para o homem. E,
na atualidade, conserva-se esse caráter.” (Engels, 1979:67)
A
alienação patriarcal sobre a mulher que a converte em esposa ou prostituta, é a
negação de sua potência histórica, o rebaixamento do seu patamar de humanidade.
A FAMÍLIA MONOGÂMICA SE CONSTITUI, PORTANTO, POR UM HOMEM E UMA OU VÁRIAS MULHERES EM UMA RELAÇÃO DE OPRESSÃO — NEM CONSENSUAL, NEM AUTÔNOMA.
Sendo
assim, devemos LUTAR contra a família monogâmica! Pois ela representa a
dominação do homem sobre a mulher.
Está
claro para nós que as relações monogâmicas não comportam a totalidade das
necessidades e possibilidades de desenvolvimento do gênero humano! Por isso, é
parte da construção de um projeto contra-hegemônico dxs trabalhadorxs o forjar
de novos homens e mulheres que se paute em relações livres no sentido mais
pleno desta palavra!
Defender
que as relações afetivo-sexuais sejam COMPLETAMENTE LIVRES não significa impôr
modelos de relacionamentos (se a duas ou mais pessoas), pelo contrário, é a
defesa de que qualquer tipo de relacionamento (inclusive a dois) não deve ser
pautado pela propriedade privada, pelo machismo, pelo Estado, incluindo a noção
de posse de uma pessoa sobre a outra!
Defendemos
uma nova forma de organização da vida social, uma sociedade emancipada das
relações de exploração e opressão. E, para que esta sociedade seja possível, é
imprescindível superar também a atual forma de família.
Somos
favoráveis à liberdade mais completa para que as pessoas possam viver seus
amores com a maior intensidade e a maior autenticidade. Superar o casamento
monogâmico é decisivo para a constituição de uma sociedade que possibilite o
desenvolvimento universal e pleno dos indivíduos.
E,
para que isso seja possível, é imprescindível superar a sociedade capitalista e
o machismo.
Roberto
J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br
(
Texto elaborado por Tábata Melise Gomes, com base no texto extraído de A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, de Engels e de Abaixo a Família Monogâmica, de Sérgio Lessa. )
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