A política
ambiental em Pindorama.
Cananéia
é a lamentável síntese de Pindorama. Já me manifestei dessa forma noutras
ocasiões e cada vez mais firmo essa conclusão. Mas a situação não se limita
apenas àquela ilha paradisíaca do litoral sul paulista. Todo o Lagamar, o Vale
do Ribeira, o litoral paranaense e de um modo geral, a costa brasileira é o
verdadeira estrato da política ambiental brasileira que revela muito bem o
paradoxo de Pindorama.
Para tristeza daquele povo caiçara, empobrecido e sofrido
por estar estabelecido nas vizinhanças de sedes das mais diversas unidades de
conservações, que assim inibem a prática de inúmeras atividades econômicas,
agora por pressões internacionais que exigem do país a implementação de
políticas preservacionistas, o Ministério Público do Estado e da União, vem
promovendo ações civis demolitórias de construções erguidas há décadas, impondo
aos seus titulares, penalidades que a par de estúpidas tornam-se exageradamente
injustas.
Em defesa do meio ambiente, ecologistas de todos os
quilates, se esquecem de que a região num todo, depende economicamente da
exploração do turismo e que, hotéis, pousadas, casas de veranistas movimentam as
suas atividades laboriosas e, demolições que se louvam em legislação, muitas
vezes, posteriores aos prédios contemplados, a par de violar direitos
adquiridos não resultam em tutela ambiental como pretendem.
É preciso repensar. Refletir melhor a atuação isolada dos
defensores do meio ambiente seja agentes públicos ou privados isolados ou
organizados em associações, pois o Vale do Ribeira como um todo, o Lagamar e
assim também as ilhas e o litoral e a zona costeira, se de um lado devem ser
preservados, mantendo-se, o que ainda resta da Mata Atlântica e todo o eco
sistema desse singular bioma, também é preciso dar oportunidade aos que ali
habitam e que historicamente, situados há mais de 500 anos, sempre se dedicaram
a atividades que, minimamente agrediram a natureza.
Agressão inexpressiva a ponto de passados séculos, permanecerem
como sendo a região melhor preservada ecologicamente, quer pelos seus
tradicionais habitantes, como os inúmeros descendentes de quilombolas,
indígenas, caiçaras quer também pelos freqüentadores como são os turistas,
pesquisadores e cientistas, pois tanto uma como outra gama de pessoas, que ali
se dirigem para esses fins, são indubitavelmente amantes da natureza e do meio
ambiente, pois enfrentam tantas dificuldades para lá chegarem ou se
estabelecerem, que, se assim não fossem, teriam outros destinos ou já longe do
Lagamar estariam.
Enfim, num país que falta habitação, que o turismo é
incipiente, que a educação ambiental ainda engatinha e outras expressões
culturais não atingiram a maturidade, é absurdo ultimarem-se medidas,
respaldadas pelas diversas Cortes, no sentido de que hotéis ou casas de
habitação singulares sejam demolidas em homenagem a fauna e a flora já adaptada
a situações consolidadas.
Lamentável a política ambiental em Pindorama. Lamentavel
o prejuízo social que se constata. Lamentável tantas injustiças sendo decretado
por órgãos do Judiciário, nem sempre experiente e vivido o bastante para
jurisdicionarem destinos de pessoas e coletividades hoje inseguras.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br( membro da Academia Eldoradense de Letras e da Academia Itanhaense de Letras )
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