Considerações a respeito
das eleições de Joinville.
Sobraram dois candidatos a
prefeito da maior cidade do Estado de Santa Catarina. Rica, produtiva, ordeira
e razoavelmente organizada, bem diferente e sem qualquer semelhança com as
vizinhas outras situadas no litoral e radicalmente oposta, com o comportamento
social distinto da vibrante e descomprometida Florianópolis.
Joinville, a cidade dos príncipes, é habitada por
tradicionais descendentes de seus fundadores, colonos alemães e mais recentemente,
por levas de migrantes que buscaram vagas nas indústrias carentes de mão de
obra desqualificada e agora, por executivos vindos do sudeste em especial,
preenchendo vagas nas lacunas diretivas do mesmo parque industrial. Essa
plêiade de habitantes convive o dia a dia que vem conduzindo a cidade ao
patamar de destaque que se encontra no cenário brasileiro.
São dois candidatos bem
distintos, mas que revelam a contemporaneidade social local e merece essa
prosa, sem que com isso, tenhamos interesse em manifestar apoio ou rejeição a
qualquer deles, até porque, a cidadania deste subscritor não é exercida naquela
pujante cidade do norte catarinense.
Vejamos: A cidade, até pouco
tempo atrás, era tida como a capital das bicicletas. Isolada no litoral norte do
Estado, sempre se identificou mais com a elegante Curitiba, do vizinho Paraná,
do que com a liberada capital do próprio Estado.
O joinvillense sempre se
vestiu de casaca, polainas e cartola, enquanto na capital, os manés, pescadores, pés descalços, calções,
tamancos formaram por séculos o quadro pitoresco da ilha de Santa Catarina.
Não havia rodovias que
ligasse Joinville, quer com o porto de São Francisco do Sul, distante 40 ou 50
km, motivando movimentado fluxo ferroviário e hidroviário. Igualmente, a
capital paranaense e a catarinense não eram alcançadas com facilidade por falta
de rodovias, de forma que a civilização se deu sobre a forte influencia da
própria cultura local, onde prevalecem as características germânicas bem
dominantes.
Nesse isolamento se
desenvolveu. Se tornou importante parque industrial de ponta e reconhecimento internacional,
administrado por famílias que, durante gerações capitanearam seus negócios e
dominaram, ao ritmo alemão os destinos da cidade, até sem se importar com os
destinos sócio-políticos das circunvizinhanças e do próprio Estado.
Próprio da personalidade
alemã, o joinvillense ao longo de sua história, se ateve mais ao próprio
umbigo, desprezando os destinos de Santa Catarina e do país, tocando a vida de
forma laboriosa, sem olhar para os lados, resignados ao sofrimento do
isolamento e do complexo imbecil de superioridade. Nem o português era
lecionado nas suas escolas, aumentando mais a ilha de ilusão de seu povo.
A conclusão da rodovia Br. 6,
hoje 101, e da ligação com Curitiba, trouxe à elegante cidade e seu povo ao
encontro da civilização nacional, até então, escamoteada pelo comportamento soberbo.
A influencia germânica
prevaleceu e isolou diversas cidades catarinenses, fazendo com que a Província,
fosse, antes de tudo, um aglomerado de comunidades espalhadas pelo trajeto em
direção ao sul. Até pouco tempo, Santa Catarina limitava-se a passagem dos que
do Rio Grande iam ou para os outros que para lá seguiam. Passagem para unir o
Brasil aos pampas...
Nesse diapasão, observa-se
ainda hoje, que Santa Catarina é a unidade da federação bem dividida
culturalmente, com regiões acentuadamente distintas e ignoradas reciprocamente.
Herança da falta de meios de comunicações eficazes, obstruídos pela ausência de
rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, sistemas de telefonia eficiente e
fragilidade cultural, na qual o sul e o oeste foram escancaradamente influenciados
pela migração gaucha e o nordeste, pela cultura paranaense.
Nesse quadro histórico, hoje
a cidade é constituída por diversos segmentos culturais, prevalecendo a horda
de migrantes operários estabelecidos a partir de 1970, oriundos na sua maioria,
do interior do Paraná. Outro segmento relevante é constituído pelos altos
executivos das indústrias e por profissionais qualificados, comerciantes e
liberais que originários do sudeste, especialmente do Rio, Minas e de Sampa.
Também contribui para a miscigenação local migrantes oriundos de minúsculas
cidades catarinenses que não oferecem perspectivas algumas.
Nos últimos 20 anos,
paulatinamente os chegantes, modernizaram o modo de vida local, mesmo com as
dificuldades inerentes aos costumes tradicionais e às imposições reticentes às
mudanças coletivas veladas ou não pelos germânicos e sucessores.
Restam ainda, compondo a
organização social joinvillense as famílias tradicionais. Filhos, netos e
bisnetos dos primeiros fundadores, que colonizaram e construíram o eixo
histórico local. Em menor número, porém, influentes nas instituições públicas e
atividades sociais, porém cada vez menos com peso político nos destinos da
cidade que vem se emancipando.
Vê-se pois que são três principais
caracteres populacionais que habitam a cidade, também muito povoada por
estudantes jovens das tantas escolas superiores ali instaladas, que, mesmo
submetidos a censuras e amarras, contribuem sobremaneira para mudanças.
Diversos candidatos com ou
sem ideologias, se submeteram ao escrutínio, sob aplausos e torcidas múltiplas. Restaram os mais votados, que se posicionam no segundo turno, no confronto,
em que de um lado, visivelmente tem o apoio da tradicional e ultra conservadora
família que se considera pura na raça e no espírito. Tem o apoio dos que batem
no peito orgulhosamente a condição de
serem os herdeiros natos dos primeiros colonizadores da grande cidade, ainda bem
provinciana nos seus hábitos e forma de vida.
De um lado, percebe-se que o ariano que ajudou a construir industrias e a
soberba civilização presa a hábitos já ultrapassados, mas impostos pela ordem e
progresso, apóia quem discursa o modo germânico de ser.
De outro lado, sobrou
simplesmente quem, independente das origens, haverá de representar o novo, o
imigrante, o profissional bem sucedido e o operário oprimido. Quem, sem aludir
a civilização histórica dos desbravadores que conquistaram o fundo da baia de
Babitonga e transformaram o brejo lamacento em cidade industrial, irá
naturalmente modernizar os costumes e a vida de todos joinvillense. É o mote dos
discursos e os apoios transparentes que se aglutinam.
Esse o dilema das eleições de
Joinville. Uma cidade ainda amarrada à tradição alemã, que não vibra e apaga as
luzes de seu comércio antes da meia noite. Uma cidade que sustenta as mordomias
do governo catarinense e o deleite dos manezinhos,
porque não sabe se impor politicamente e assim, obter os serviços públicos
mínimos necessários para que o idh local,
atinja níveis condizentes a postura esnobe e orgulhosa de seu povo.
Um dilema no qual está em
confronto a educação trazida de fora, na qual se escuta, de seus
representantes, boa tarde, até logo,
obrigado, por favor, ou então, o silencio dos incompetentes, que ordena,
não agradece e não sorri, mostrando sisuda falsa superioridade decadente e a
personalidade insegura dos boçais. ( com excessões sempre )
Roberto J. Pugliese
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