21 outubro 2012

As eleições e os destinos de uma população mutante.

Considerações a respeito das eleições de Joinville.
 
Sobraram dois candidatos a prefeito da maior cidade do Estado de Santa Catarina. Rica, produtiva, ordeira e razoavelmente organizada, bem diferente e sem qualquer semelhança com as vizinhas outras situadas no litoral e radicalmente oposta, com o comportamento social distinto da vibrante e descomprometida Florianópolis.
 
Joinville, a cidade dos príncipes, é habitada por tradicionais descendentes de seus fundadores, colonos alemães e mais recentemente, por levas de migrantes que buscaram vagas nas indústrias carentes de mão de obra desqualificada e agora, por executivos vindos do sudeste em especial, preenchendo vagas nas lacunas diretivas do mesmo parque industrial. Essa plêiade de habitantes convive o dia a dia que vem conduzindo a cidade ao patamar de destaque que se encontra no cenário brasileiro.
 
São dois candidatos bem distintos, mas que revelam a contemporaneidade social local e merece essa prosa, sem que com isso, tenhamos interesse em manifestar apoio ou rejeição a qualquer deles, até porque, a cidadania deste subscritor não é exercida naquela pujante cidade do norte catarinense.
 
Vejamos: A cidade, até pouco tempo atrás, era tida como a capital das bicicletas. Isolada no litoral norte do Estado, sempre se identificou mais com a elegante Curitiba, do vizinho Paraná, do que com a liberada capital do próprio Estado.
 
O joinvillense sempre se vestiu de casaca, polainas e cartola, enquanto na capital, os manés, pescadores, pés descalços, calções, tamancos formaram por séculos o quadro pitoresco da ilha de Santa Catarina.
 
Não havia rodovias que ligasse Joinville, quer com o porto de São Francisco do Sul, distante 40 ou 50 km, motivando movimentado fluxo ferroviário e hidroviário. Igualmente, a capital paranaense e a catarinense não eram alcançadas com facilidade por falta de rodovias, de forma que a civilização se deu sobre a forte influencia da própria cultura local, onde prevalecem as características germânicas bem dominantes.
 
Nesse isolamento se desenvolveu. Se tornou importante parque industrial de  ponta e reconhecimento internacional, administrado por famílias que, durante gerações capitanearam seus negócios e dominaram, ao ritmo alemão os destinos da cidade, até sem se importar com os destinos sócio-políticos das circunvizinhanças e do próprio Estado.
 
Próprio da personalidade alemã, o joinvillense ao longo de sua história, se ateve mais ao próprio umbigo, desprezando os destinos de Santa Catarina e do país, tocando a vida de forma laboriosa, sem olhar para os lados, resignados ao sofrimento do isolamento e do complexo imbecil de superioridade. Nem o português era lecionado nas suas escolas, aumentando mais a ilha de ilusão de seu povo.
 
A conclusão da rodovia Br. 6, hoje 101, e da ligação com Curitiba, trouxe à elegante cidade e seu povo ao encontro da civilização nacional, até então, escamoteada pelo comportamento soberbo.
 
A influencia germânica prevaleceu e isolou diversas cidades catarinenses, fazendo com que a Província, fosse, antes de tudo, um aglomerado de comunidades espalhadas pelo trajeto em direção ao sul. Até pouco tempo, Santa Catarina limitava-se a passagem dos que do Rio Grande iam ou para os outros que para lá seguiam. Passagem para unir o Brasil aos pampas...
 
Nesse diapasão, observa-se ainda hoje, que Santa Catarina é a unidade da federação bem dividida culturalmente, com regiões acentuadamente distintas e ignoradas reciprocamente. Herança da falta de meios de comunicações eficazes, obstruídos pela ausência de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, sistemas de telefonia eficiente e fragilidade cultural, na qual o sul e o oeste foram escancaradamente influenciados pela migração gaucha e o nordeste, pela cultura paranaense.
 
Nesse quadro histórico, hoje a cidade é constituída por diversos segmentos culturais, prevalecendo a horda de migrantes operários estabelecidos a partir de 1970, oriundos na sua maioria, do interior do Paraná. Outro segmento relevante é constituído pelos altos executivos das indústrias e por profissionais qualificados, comerciantes e liberais que originários do sudeste, especialmente do Rio, Minas e de Sampa. Também contribui para a miscigenação local migrantes oriundos de minúsculas cidades catarinenses que não oferecem perspectivas algumas.
 
Nos últimos 20 anos, paulatinamente os chegantes, modernizaram o modo de vida local, mesmo com as dificuldades inerentes aos costumes tradicionais e às imposições reticentes às mudanças coletivas veladas ou não pelos germânicos e sucessores.
 
Restam ainda, compondo a organização social joinvillense as famílias tradicionais. Filhos, netos e bisnetos dos primeiros fundadores, que colonizaram e construíram o eixo histórico local. Em menor número, porém, influentes nas instituições públicas e atividades sociais, porém cada vez menos com peso político nos destinos da cidade que vem se emancipando.
 
Vê-se pois que são três principais caracteres populacionais que habitam a cidade, também muito povoada por estudantes jovens das tantas escolas superiores ali instaladas, que, mesmo submetidos a censuras e amarras, contribuem sobremaneira para mudanças.
 
Diversos candidatos com ou sem ideologias, se submeteram ao escrutínio, sob aplausos e torcidas múltiplas.  Restaram os mais votados, que  se posicionam no segundo turno, no confronto, em que de um lado, visivelmente tem o apoio da tradicional e ultra conservadora família que se considera pura na raça e no espírito. Tem o apoio dos que batem no peito orgulhosamente  a condição de serem os herdeiros natos dos primeiros colonizadores da grande cidade, ainda bem provinciana nos seus hábitos e forma de vida.
 
De um lado, percebe-se que  o ariano que ajudou a construir industrias e a soberba civilização presa a hábitos já ultrapassados, mas impostos pela ordem e progresso, apóia quem discursa o modo germânico de ser.
 
De outro lado, sobrou simplesmente quem, independente das origens, haverá de representar o novo, o imigrante, o profissional bem sucedido e o operário oprimido. Quem, sem aludir a civilização histórica dos desbravadores que conquistaram o fundo da baia de Babitonga e transformaram o brejo lamacento em cidade industrial, irá naturalmente modernizar os costumes e a vida de todos joinvillense. É o mote dos discursos e os apoios transparentes que se aglutinam.
 
Esse o dilema das eleições de Joinville. Uma cidade ainda amarrada à tradição alemã, que não vibra e apaga as luzes de seu comércio antes da meia noite. Uma cidade que sustenta as mordomias do governo catarinense e o deleite dos manezinhos, porque não sabe se impor politicamente e assim, obter os serviços públicos mínimos necessários para que o idh local, atinja níveis condizentes a postura esnobe e orgulhosa de seu povo.
 
Um dilema no qual está em confronto a educação trazida de fora, na qual se escuta, de seus representantes, boa tarde, até logo, obrigado, por favor, ou então, o silencio dos incompetentes, que ordena, não agradece e não sorri, mostrando sisuda falsa superioridade decadente e a personalidade insegura dos boçais. ( com excessões sempre )
 
Roberto J. Pugliese

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