O Jogo do bicho – Hipocrisia institucional.
É sabido que a corrupção
corre solta pelo país, de norte a sul, sem exceção. Não se excluí dessa cultura
que nos acompanha por séculos a província paulista, também com seu povo, suas
elites, seus empresários e políticos metidos em atrapalhadas escandalosas que
inibem toda a população e pessoas de bem.
Mas a grande diferença é
que em São Paulo as falcatruas se dão de forma refinada. São grandiosas no
resultado e disfarçadas, importando em ordens que submetem políticos e
administradores, impondo-lhes condições e com resultados dignos da grandeza do
Estado.
Em São Paulo o jogo do
bicho é proibido tanto quanto de resto o é no pais inteiro. Sabe-se que,
proibido ou não, muitos jogam, muitos ganham, há banqueiros e todo o esquema em
funcionamento. Policiais envolvidos e a corrupção corre solta. Mas tudo é disfarçado.
Por baixo do pano é que o bicho rola no Estado.
Noutros lugares, é sabido
que o bicho também corre solto,
porém, corre solto mesmo. No Rio de Janeiro, há banquetas na cidade e no
Nordeste é comum as casas lotéricas afixarem o resultado do bichopublicamente, sem que ninguém se
importe. Mas tanto no Rio, como no Nordeste, igual a S. Paulo, o bicho é proibido desde 1946.
Porém o jogo maldito criado
pelo Barão de Itararé trata-se de evento de grandiosidade nacional. É uma das
expressões culturais brasileiras, que, aliás, já deveria estar tombado pelo
IPHAN há muitos anos. No entanto, repete-se: é proibido e não pode ser jogado.
Em Santa Catarina, na sua
capital, outro dia, me deparei com uma casinha, instalada publicamente que
serve para venda desse jogo. Tem hora para abrir. Hora para fechar e toda uma
organização. Só bicho é negociado na
birosca existente numa avenida de bastante movimento no sul da ilha.
Nela, não há venda de
outras loterias. Só o jogo do bicho. Lógico que muitos são os que estão envolvidos
com o funcionamento da birosca, pois, situada à margem da via pública, junto ao
meio fio, não dispõe de placa, número e provavelmente de alvará de
funcionamento. Autoridades de todos os níveis sabem e ignoram sua existência.
E assim, quando se analisa
o bicho, proibido, lá e acolá e a
forma de estar ou não ostensivo ou camuflado, se conclui porque existem
diferenças no comportamento social do povo paulista e dos demais brasileiros.
Num lugar o que é proibido,
se cumpre a lei, proibindo o jogo. Se o jogo por lá existe, é escondido e
disfarçado. Noutros, a mesma ordem proibitiva é ostensivamente ignorada e todos
a desrespeitam sem se incomodar com a reprovação ética social, pois ninguém se
importa. E o jogo proibido corre solto, livre e em abundancia, desmoralizando a
lei e as próprias autoridades.
Roberto J. Pugliese
Nenhum comentário:
Postar um comentário