06 novembro 2013

Catraia: experiencia inesquecível. ( memória nº 34 )

Memória nº34
Travessia de catraia.

 

São raras as pessoas, salvo as da região,  que conhecem o transporte marítimo de pessoas e coisas existente há muitas e muitas décadas que liga Santos ao Guarujá. Uns barcos saem da costa santista, próximo dos restaurantes e clubes nas imediações do acesso ao ferry boat, na Ponta da Praia, e seguem para o porto existente em Vicente de Carvalho.  Outros que saem do mesmo porto, seguem para a praia do Goes com parada no Forte situado no meio do caminho, na ilha de Santo Amaro, no Guarujá.

Outro transporte semelhante que une o porto existente em Vicente de Carvalho, ao Mercado Municipal de Santos são as catraias. São barcos que transportam aproximadamente 30 passageiros que residem na ilha de Santo Amaro e trabalham na ilha de São Vicente, ou em Cubatao ou então estudam fora de seus domicílios e se valem desse pitoresco transporte.

São embarcações destinadas a travessia marítima entre Santos e a costa oeste do Guarujá. Une o centro de Santos ao bairro operário do Guarujá. Um transporte barato, eficiente e popular. Uma antiga tradição usa por populares.

Um passeio muito interessante que atravessa todo o cais por um túnel que une o pequeno porto existente na orla do Mercado Municipal de Santos e o canal. Um túnel com aproximadamente 300 metros de comprimento por 2 ou 3 de largura que atravessa por baixo do cais do porto santista e atinge o  estuário. Dalí em diante, a céu aberto, a catraia atravessa o canal em direção a estação existente em Vicente de Carvalho no município de Guarujá.

Bem interessante que merece ser visitado.

Lourenço por volta de 1968 passou uma semana com Omir, seu grande amigo, no Guarujá, onde a família deste tem até hoje apartamento. Todas as tardes ao anoitecer, de  ônibus e iam a Vicente de Carvalho e no porto das catraias, atravessavam até o mercado municipal em Santos e de lá, à pé ou de bonde, iam à zona das boates e casas de shows e espetáculos destinados principalmente aos marinheiros do mundo que, despreocupadamente se divertiam naquela confusão de luzes e cores...

 

Certa noite um ou outro arrumou uma discussão com um estivador ou marinheiro e foram obrigados a tomar o bonde que passava, e no desespero de quem salve-se quem puder  sumirem daquela boca suspeita.

Passaram-se muitos anos. Mais de 30 anos. Certa feita Lourenço acabara de jantar com Ivone Lourenço, sua mulher, num dos restaurantes situados junto ao canal, em Santos, e do restaurante onde se encontravam lembrou-se das catraias e seguiu para aqueles lados dizendo que a levaria num passeio bem interessante.

Sua mulher que já fora ao Monte Serrat durante o dia, pensou que voltaria para lá à noite... mas a grande surpresa foi dar um passeio e irem de catraia, atravessando o túnel e o canal naquela noite.

Depois voltaram... e foram para o apart-hotel onde se encontravam hospedado.

Naquele principio de madrugada o casal passou por situação interessante e perigosa. Ao deixarem o automóvel nas proximidades do Mercado Municipal, lugar de péssima frequência, presenciaram um casal brigando com muita violência nas palavras quase chegando às vias de fatos. O lugar era escuro, sujo e vazio. No retorno para Santos, quando a embarcação adentrou ao túnel, depois de alguns metros parou, e um pederastra, levantou uma laje do solo portuário e adentrou ao cais, provavelmente para fazer algum ou vários programas.

No trajeto, catraia cheia de operários e estudantes que de Santos seguiam para seus lares no Guarujá e no retorno, quase vazia, fez com que recordasse da semana que passara com Omir... viajando quase todas as noites e madrugadas de lá para cá e de cá para lá.

 

Bem interessante que o túnel que atravessa sob o cais do porto de Santos tem lâmpadas com luzes fraquinhas dispostas a cada 5 ou 6 metros tornando o trajeto bem pitoresco. Igualmente quando do Mercado se dirige à Vicente de Carvalho, ao sair do túnel e se deparar com os imensos navios que estão no canal ou atracados... Bem interessante.

O passeio merece ser realizado. Vale à pena: É histórico, tradicional, cultural e emocionante.

Roberto J. Pugliese
Autor de Terrenos de Marinha e seus Acrescidos, Letras Jurídicas
Autor de Direitos das Coisas, Leud

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