Comissão da
Verdade colhe depoimento.
Maria Rita Kehl foi visitar a aldeia
Ianomami na condição de integrante da Comissão da Verdade para avaliar os danos
sofridos pelos indígenas quando em 1974 foi aberta a Perimetral Norte em
Roraima.
Abaixo segue o depoimento colhido por
Davi Kopenawa, um dos quatro anciões pajés da aldeia:
"Eu não sabia que existia governo. Veio chegando de longe até nossa
terra: são pensamentos diferentes de nós. Pensamentos de tirar mercadoria da
terra: ouro, diamantes, cassiterita, madeira, pedras preciosas. Matam árvores,
destroem a terra mãe, como o povo indígena fala. Ela é que cuida de nós. Ela
nasceu, a natureza grande, para a gente usar.
Eu não sabia que o governo ia fazer estradas aqui. Autoridade não avisou
antes de destruir nosso meio ambiente, antes de matar nosso povo. Não só os
ianomâmi: o povo do Brasil. A estrada é um caminho de invasores, de garimpo, de
agricultores, de pescadores. Tiram 'biopirataria' sem avisar nós. Estradas que
o governo construiu começaram lá em Belém, depois Amapá, Manaus, Boa Vista.
Mataram nossos parentes waimiri-atroari. É trabalho ilegal. O branco usa
palavra ilegal.
A Funai, que era pra nos proteger, não nos ajudou nem avisou dos
perigos. Hoje estamos reclamando. Só agora está acontecendo, em 2013, que vocês
vieram aqui pedir pra gente contar a história. Quero dizer: eu não quero mais
morrer outra vez.
O governo local e nacional, deputados, senadores, governadores, todos
têm que pensar como o governo vai nos proteger e não deixar mais destruir matas
e rios e fazer sofrer os ianomâmis e outros parentes, junto com a floresta. O
ambiente sofre também, junto com o índio.
Minha ideia: eu ando no meu país, o Brasil. Sou filho da Amazônia
brasileira, conto para quem não sabe o sofrimento do meu povo. Não queremos que
a autoridade deixe estragar outra vez. Se o governo quer fazer estrada na terra
ianomâmi, tem que entrar e conversar com nós, junto com o Ibama. O governo
Dilma está aprontando para estragar outra vez. Nosso povo não quer.
A autoridade tem que respeitar a Constituinte que o governo passado criou. O que fala a OIT, no papel, não pode mudar, não. Tem que ser respeitado.
A autoridade tem que respeitar a Constituinte que o governo passado criou. O que fala a OIT, no papel, não pode mudar, não. Tem que ser respeitado.
Querem mudar o artigo 231. O projeto [de lei complementar] 227 vai
permitir matar nós, não vai mais deixar demarcar terras de nossos parentes. O
governo tem que completar o trabalho e demarcar as terras dos povos que ainda
estão lutando. Demarcar as terras de quem ainda falta demarcar.
Hoje em dia, nós, lideranças, sabemos reclamar! Também precisa falar com outros governos do mundo que mandam estrangeiros virem destruir a natureza de nosso país. Não queremos aprovação de projetos de mineração no Congresso. Vamos passar fome quando não tiver mais árvores, peixes, água limpa. Belo Monte é morte, não é uma palavra bonita. Vai matar árvores, rios, índios, vida da terra.
Hoje em dia, nós, lideranças, sabemos reclamar! Também precisa falar com outros governos do mundo que mandam estrangeiros virem destruir a natureza de nosso país. Não queremos aprovação de projetos de mineração no Congresso. Vamos passar fome quando não tiver mais árvores, peixes, água limpa. Belo Monte é morte, não é uma palavra bonita. Vai matar árvores, rios, índios, vida da terra.
Os brancos pensam que a floresta foi posta em cima do chão sem nenhum
motivo. Pensam que a floresta é uma coisa morta. Isso não é verdade. Ela só
fica lá, quieta no chão, porque os espíritos dos xapiripe tomam conta dos seres
maléficos e seguram a raiva dos seres da tempestade. Sem a floresta, não teria
água na terra. As árvores da floresta são boas porque estão vivas, só morrem
quando são cortadas. Mas daí elas nascem de novo. É assim. Nossa floresta é
viva, e se os brancos acabarem com nosso povo e com as matas, eles não vão
saber orar em nosso lugar, vão ficar pobres e acabar sofrendo de fome e sede.
Queremos que nossos filhos e netos possam crescer achando nela seus
alimentos. Nossos antepassados foram cuidadosos com ela, por isso está até hoje
com boa saúde. Foi o governo que tirou nossa floresta, nossos rios e a vida dos
irmãos. Tem que pagar indenização. Porque nossa vida vale mais do que
ouro."
O Expresso
Vida lamenta que o país tenha convivido públicamente durante décadas por
situação tão violenta provocada pela ditadura e interesses do capital
internacional.
A memória
dos jovens brasileiros deve ser diuturnamente lembrada para que não esqueçam
dos ANOS DE CHUMBO.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.brpresidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras
Autor de Terrenos de Marinha e seus Acrescidos, Letras Jurídicas
Autor de Direitos das Coisas, Leud
( Fonte =MARIA RITA KEHL, 61, psicanalista, é integrante da Comissão Nacional da Verdade - DAVI KOPENAWA, 57, é pajé da aldeia ianomâmi Watoriki. Recebeu o prêmio Global 500 da ONU = Renap SC )
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