Memória nº 56
Iate Clube –
Marcos covarde. – Bochas. Piroga. Campeonatos e jogos.
O Itanhaem Iate Clube traz
para Lourenço muitas recordações. Ótimas lembranças de um passado privilegiado
que nunca mais há de se repetir. E acredita que seus contemporâneos que à época
frequentavam o clube também tenham a mesma sensação.
A associação foi tão
importante e marcante para a vida daquela juventude que o frequentava, que
mesmo oriundos de lugares distintos, já
que Itanhaém era a cidade onde passavam suas férias, formaram relação social
forte. Uns casaram entre si e assim permanecem ao longo do tempo. Outros
celebram ainda amizade que perdura, desde 1960, ou 70, 80, 90... como se dá com
Lourenço e seus contemporâneos. Poucos eram os sócios residentes em Itanhaém.
Costumeiramente durante a
temporada de verão, que naquele tempo era maior, estendendo de janeiro até
março, quando reiniciava o ano letivo, o clube promovia diversas competições e
torneios para os associados. Era concurso de pesca, campeonato de bocha, de
tênis, de futebol, concurso de beleza, corrida à pé, de bicicleta, competição
de natação na piscina e no rio, além dos bailes todos os sábados com atrações
vindas do Rio, São Paulo, Santos que movimentavam bastante a cidade e o próprio
clube.
Artistas consagrados
estiveram presentes nos espetáculos dos sábados por diversas vezes, com
destaque para Simonal, Roberto Carlos, Jorge Bem, Betinho do Vibrafone, André
Penazi, Alcione e outros inúmeros cantores, bandas ou animadores, como o
Faustão, líder de audiência com o programa Perdidos na Noite que à época era da
TV Bandeirantes.
Os bailes de carnavais eram
animados por bandas de São Paulo, que tocavam desde sexta feira até a quarta
feira de cinzas e no aniversário do clube, no dia 25 de janeiro, a festa era
bem elegante e charmosa.
Havia também competições para
envolver a população local, como as competições de pesca de vara e a
tradicional corrida de canoas.
Mesmo frequentando as
diversas tribos da cidade, tanto as formadas pelos caiçaras, como a dos
pescadores, como os diversos grupos existentes entre os veranistas e os
associados do clube, havia alguns grupos que não eram tão simpáticos à Lourenço
e vice versa.
Nesse tempo, Bola um paulistano sócio do Iate Clube
cujos pais também tinham casa na Praia dos Sonhos, era de tribo outra. Um
grupinho mais seletivo, cujas relações com a turma mais próxima a de Lourenço
não era, à época, tão amistosa, com divergências e disputas próprias da
insegurança da adolescência.
Pois Lourenço e Bola
inscritos que estavam para uma corrida de pirogas, foram colocados na mesma
embarcação, que deveria sair do trapiche do clube e seguir até a ponte, dar a
volta e retornar... sendo vencedora a dupla que chegasse primeiro.
Dada a largada o
desentendimento entre ambos se tornou indisfarçável e começaram a discutir logo
nas primeiras remadas. O barco, distante uns 200 metros do clube, rodava e
seguia sem destino pela correnteza... A discussão era brava e o tom de voz
alto.
As torcidas que acompanhavam
os competidores percebiam e riam da desorientação daquela piroga perdida entre
a praia do Pollastrini e o cais do Iate Clube. Sem rumo, apenas navegava para
lá e para cá, perdida pela discussão de seus tripulantes.
Terminada a corrida foram
buscá-los retornando rebocados em plena discussão interminável. Classificados
em 5º lugar, com direito a medalhas e aplausos. Era apenas cinco duplas participantes
e o tradicional HONRA AO MÉRITO foi concedido...
O Iate Clube dispunha de duas
canchas de bochas que eram frequentadas por sócios mais velhos na sua maioria.
Mas os jovens sempre arriscavam algumas partidas e até participavam de torneios
que terminavam com rodadas de cerveja, medalhas e taças.
Numa temporada foi organizado
um torneio de futebol de mesa. Dezesseis
competidores, organizados à semelhança da Copa do Mundo. Foi no ano que o
Brasil fez feio na Inglaterra: 1966.
Quatro chaves, com quatro
times cada uma, possibilitando que se classificassem dois por chaves. Depois o
mata-mata... e Lourenço foi o vice campeão. No ano seguinte foi campeão e tem
guardado ainda as duas taças ...
Por volta de 1984 já
residindo em Itanhaém, num final de tarde, após uma partida de bocha, estava a
tomar cerveja com Marcos e Alonso,
sócios que costumeiramente estavam na cancha disputando partidas e os três
conversavam qualquer assunto despretensiosamente.
Bebericavam e jogavam conversa
fora sentados numa das mesas do barzinho que havia entre as quadras de basquete
e a de bochas, quando Lourenço Jr. que jogava bola com outras
crianças, foi ao bar pedir sorvete e, de modo surpreendente foi duramente
repreendido por Marcos:
- Tome mais cuidado. Não faça
mais isso. Se eu presenciar que você jogou a bola no meu filho que é
pequenininho, eu vou te bater...
Lourenço Jr. tinha talvez
cinco anos de idade e o menino vítima, filho de Marcos, inadvertidamente entrara na
quadra, por descuido do pai que não percebera que na sua inocência caminhara
para onde vira outras crianças jogando e coincidentemente tomara a bolada,
caindo e saindo chorando nos seus dois ou três anos de idade... O garotinho
ingressara em pleno jogo de futebol que Lourenço Jr. participava e
acidentalmente atingira com uma bolada o derrubando.
Incidentes típicos da
associabilidade infantil.
Lourenço que passava ao largo
da quadra presenciou o fato mas não deu importância pois fora mais o susto que
outra coisa que fez a criança chorar.Ademais, Lourenço Jr. e os demais
presentes acudiram a criança imediatamente. Inclusive o pai que correu ao seu
encontro.
A ameaça covarde de Marcos
fez com que Lourenço prontamente meditasse: Posso
dar uma garrafada e mostrar que nenhum adulto bate no meu filho e uma porção de outras
ideias... Preferindo levantar-se e sair daquele convívio que provocara péssimo
mal estar.
Sem despedir-se retirou-se da
roda revelando seu descontentamento pela
ameaça absurda.
Posteriormente falou com o
filho, assegurando que não ia acontecer nada. Também falou com o Alonso, que
achou bem ponderado ter se retirado sem nada fazer.
Lourenço comentou o fato com
o seu pai, que jogava bocha e mantinha também relações sociais com Marcos. Ponderou
que preferiu não protestar ou ser violento naquele momento e que falara com
Lourenço Jr. dando-lhe a segurança de sua inviolabilidade.
Resumindo: Nunca mais se
falaram e ostensivamente evitaram Lourenço pai e Lourenço a cumprimentá-lo e o
boicotaram em tudo que puderam. Ademais, divulgaram amplamente a atitude
covarde ameaçadora de Marcos.
De sua parte, Lourenço Jr.
não deu qualquer importância ao fato.
Enfim, insta registrar que o
Iate Clube representou muito para a cidade, sendo foco de cultura e atração de
pessoas ícones da sociedade paulista, que o frequentavam, uns porque tinham
embarcações ali guardadas, outros pelas festas, outros pelas promoções
esportivas, outros por razões outras... colocando sempre a velha Conceição de
Itanhaém nas melhores pautas das rodas sociais.
Roberto J. Pugliese
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São
José de Letras
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