09 janeiro 2014

A piroga, a bocha e o campeonato de botão... ( memória nº 56 )


Memória nº 56

Iate Clube –

Marcos covarde. – Bochas. Piroga. Campeonatos e jogos.

 

O Itanhaem Iate Clube traz para Lourenço muitas recordações. Ótimas lembranças de um passado privilegiado que nunca mais há de se repetir. E acredita que seus contemporâneos que à época frequentavam o clube também tenham a mesma sensação.

 

A associação foi tão importante e marcante para a vida daquela juventude que o frequentava, que mesmo oriundos de lugares  distintos, já que Itanhaém era a cidade onde passavam suas férias, formaram relação social forte. Uns casaram entre si e assim permanecem ao longo do tempo. Outros celebram ainda amizade que perdura, desde 1960, ou 70, 80, 90... como se dá com Lourenço e seus contemporâneos. Poucos eram os sócios residentes em Itanhaém.

 

Costumeiramente durante a temporada de verão, que naquele tempo era maior, estendendo de janeiro até março, quando reiniciava o ano letivo, o clube promovia diversas competições e torneios para os associados. Era concurso de pesca, campeonato de bocha, de tênis, de futebol, concurso de beleza, corrida à pé, de bicicleta, competição de natação na piscina e no rio, além dos bailes todos os sábados com atrações vindas do Rio, São Paulo, Santos que movimentavam bastante a cidade e o próprio clube.

 

Artistas consagrados estiveram presentes nos espetáculos dos sábados por diversas vezes, com destaque para Simonal, Roberto Carlos, Jorge Bem, Betinho do Vibrafone, André Penazi, Alcione e outros inúmeros cantores, bandas ou animadores, como o Faustão, líder de audiência com o programa Perdidos na Noite que à época era da TV Bandeirantes.

 

Os bailes de carnavais eram animados por bandas de São Paulo, que tocavam desde sexta feira até a quarta feira de cinzas e no aniversário do clube, no dia 25 de janeiro, a festa era bem elegante e charmosa.

 

Havia também competições para envolver a população local, como as competições de pesca de vara e a tradicional corrida de canoas.

 

Mesmo frequentando as diversas tribos da cidade, tanto as formadas pelos caiçaras, como a dos pescadores, como os diversos grupos existentes entre os veranistas e os associados do clube, havia alguns grupos que não eram tão simpáticos à Lourenço e vice versa.

 

Nesse tempo, Bola um paulistano sócio do Iate Clube cujos pais  também tinham casa  na Praia dos Sonhos, era de tribo outra. Um grupinho mais seletivo, cujas relações com a turma mais próxima a de Lourenço não era, à época, tão amistosa, com divergências e disputas próprias da insegurança da adolescência.

 

Pois Lourenço e Bola inscritos que estavam para uma corrida de pirogas, foram colocados na mesma embarcação, que deveria sair do trapiche do clube e seguir até a ponte, dar a volta e retornar... sendo vencedora a dupla que chegasse primeiro.

 

Dada a largada o desentendimento entre ambos se tornou indisfarçável e começaram a discutir logo nas primeiras remadas. O barco, distante uns 200 metros do clube, rodava e seguia sem destino pela correnteza... A discussão era brava e o tom de voz alto.

 

As torcidas que acompanhavam os competidores percebiam e riam da desorientação daquela piroga perdida entre a praia do Pollastrini e o cais do Iate Clube. Sem rumo, apenas navegava para lá e para cá, perdida pela discussão de seus tripulantes.

 

Terminada a corrida foram buscá-los retornando rebocados em plena discussão interminável. Classificados em 5º lugar, com direito a medalhas e aplausos. Era apenas cinco duplas  participantes  e o tradicional HONRA AO MÉRITO foi concedido...

 

O Iate Clube dispunha de duas canchas de bochas que eram frequentadas por sócios mais velhos na sua maioria. Mas os jovens sempre arriscavam algumas partidas e até participavam de torneios que terminavam com rodadas de cerveja, medalhas e taças.

 

Numa temporada foi organizado um torneio de futebol de mesa.  Dezesseis competidores, organizados à semelhança da Copa do Mundo. Foi no ano que o Brasil fez feio na Inglaterra: 1966.

 

Quatro chaves, com quatro times cada uma, possibilitando que se classificassem dois por chaves. Depois o mata-mata... e Lourenço foi o vice campeão. No ano seguinte foi campeão e tem guardado ainda as duas taças ...

 

Por volta de 1984 já residindo em Itanhaém, num final de tarde, após uma partida de bocha, estava a tomar cerveja com Marcos e Alonso,  sócios que costumeiramente estavam na cancha disputando partidas e os três conversavam  qualquer assunto despretensiosamente.

 

Bebericavam e jogavam conversa fora sentados numa das mesas do barzinho que havia entre as quadras de basquete e a de  bochas, quando  Lourenço Jr. que jogava bola com outras crianças, foi ao bar pedir  sorvete  e, de modo surpreendente foi duramente repreendido por Marcos:

 

- Tome mais cuidado. Não faça mais isso. Se eu presenciar que você jogou a bola no meu filho que é pequenininho, eu vou te bater...

 

Lourenço Jr. tinha talvez cinco anos de idade e o menino vítima,  filho de Marcos, inadvertidamente entrara na quadra, por descuido do pai que não percebera que na sua inocência caminhara para onde vira outras crianças jogando e coincidentemente tomara a bolada, caindo e saindo chorando nos seus dois ou três anos de idade... O garotinho ingressara em pleno jogo de futebol que Lourenço Jr. participava e acidentalmente atingira com uma bolada o derrubando.

 

Incidentes típicos da associabilidade infantil.

 

Lourenço que passava ao largo da quadra presenciou o fato mas não deu importância pois fora mais o susto que outra coisa que fez a criança chorar.Ademais, Lourenço Jr. e os demais presentes acudiram a criança imediatamente. Inclusive o pai que correu ao seu encontro.

 

A ameaça covarde de Marcos fez com que Lourenço prontamente meditasse: Posso dar uma garrafada e mostrar que nenhum adulto  bate no meu filho e uma porção de outras ideias... Preferindo levantar-se e sair daquele convívio que provocara péssimo mal estar.

 

Sem despedir-se retirou-se da roda  revelando seu descontentamento pela ameaça absurda.

 

Posteriormente falou com o filho, assegurando que não ia acontecer nada. Também falou com o Alonso, que achou bem ponderado ter se retirado sem nada fazer.

 

Lourenço comentou o fato com o seu pai, que jogava bocha e mantinha também relações sociais com Marcos. Ponderou que preferiu não protestar ou ser violento naquele momento e que falara com Lourenço Jr. dando-lhe a segurança de sua inviolabilidade.

 

Resumindo: Nunca mais se falaram e ostensivamente evitaram Lourenço pai e Lourenço a cumprimentá-lo e o boicotaram em tudo que puderam. Ademais, divulgaram amplamente a atitude covarde ameaçadora de Marcos.

 

De sua parte, Lourenço Jr. não deu qualquer importância ao fato.

 

Enfim, insta registrar que o Iate Clube representou muito para a cidade, sendo foco de cultura e atração de pessoas ícones da sociedade paulista, que o frequentavam, uns porque tinham embarcações ali guardadas, outros pelas festas, outros pelas promoções esportivas, outros por razões outras... colocando sempre a velha Conceição de Itanhaém nas melhores pautas das rodas sociais.

 

Roberto J. Pugliese


Membro da Academia Eldoradense de Letras

Membro da Academia Itanhaense de Letras

Titular da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras

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