03 janeiro 2014

Lucifer - Self Pity - ( memória nº 52 )

 
Memória –nº52
Self Pity - 1978

 
 
 
 
 

 
Chovia fininho. Intermitentemente uma chuva fina e fria. Uma noite qualquer em Iguape, litoral sul paulista, solitário, já jantara e fazia hora para retornar ao hotel, dormir e se preparar para enfrentar as obrigações do amanhã.

 

Fora a trabalho cuidar do seu loteamento e tivera que permanecer por lá. Só, por acaso no rádio do carro, ouviu pela primeira vez Self Pity, estacionado vendo a chuva, num campanário, próximo a Fonte do Senhor. Havia um circo decadente e pensava se iria assistir ou não o espetáculo.

(....)

A música o marcou profundamente. O cenário daquela noite fria e chuvosa em Iguape, na angustia de estar só, longe da mulher e do filho recém-nascido, do cartório, do escritório, em busca de um destino como empreendedor, fez com que a reflexão daquela noite, viesse a perpetuar a letra, o som, a melodia e gravá-la na memória...

(...)

O tempo passou. E passa rápido. Passa muito rápido que nem se percebe, mas quando se dá conta, passou... e não tem volta.Lourenço residia em Gurupi,advogado com banca reconhecida e próspera no Estado do Tocantins, presidente da OAB, estava chegando em casa, quando ia estacionar seu carro, era sábado e já passava das 19 horas, e ouviu Self Pity.

 

Estacionou junto ao meio fio da frente de sua casa e permaneceu ouvindo parado, repetindo o comportamento quase ritual quando oportunizada ouvir a música tão marcante.

 

Num estalo, resolveu ir até a estação de rádio para grava-la. Eram anos e anos que tentava ter a música gravada ou de algum modo consigo, mas nunca tivera a oportunidade. Chegara a hora.

 

Aquela época residia na esquina da rua 7, com a avenida São Paulo, praticamente no centro da próspera cidade e a estação da Rádio Araguaia FM, única na cidade, ficava no topo norte, próximo a BR153, no Distrito Industrial ou proximidades.

 

Interessante que existiam funcionando apenas uma estação de rádio e quatro estações de televisão na cidade. Paradoxos de um país em movimento e inexplicável.

 

Um estúdio abaixo da torre de transmissão do grupo de comunicação goiano Anhanguera. Uma casinha, na qual o locutor permanecia trancado, exercendo seu oficio com bastante profissionalismo, na elevação em destaque, que permitia observar toda a extensão ao longo de 360º graus, incluindo a cidade, o aeroporto e as incontáveis fazendas de gado.

 

Noite quente, típica do Planalto Central, do norte goiano, do abençoado e pré destinado Estado do Tocantins. Amazônia legal. Calor abafado. Chegou, estacionou, bateu, aguardou, se apresentou, entrou e explicou que ouvira u’a música e queria grava-la. Fazia uns doze ou treze anos que queria a música, mas não sabia o nome e não tinha referencia, salvo uma única:

 

- Lúcifer.

 

Sim, esse nome sabia décor, mas  não sabia se era o conjunto, o cantor, o nome da música... Enfim, deu o nome e disse que fora ao ar há uns quinze ou vinte minutos antes, propiciando o locutor procurar na listagem em seu poder, elaborada, por incrível que possa parecer, em Goiânia, sede da empresa para a qual trabalhava.

 

- Passa segunda feira nesse horário que te entrego a fita gravada.

 

A fita foi regravada com outras músicas de seu gosto. O tempo passou. O tempo não para e da fita, já obsoleta, posteriormente trasladou para um CD. Depois de muitos anos, com a tradução, percebeu que o texto daquela melodia tinha algo a haver com a noite melancólica, chuvosa e solitária  de  1978 ou 1979, à beira do canal em Iguape, quando ainda era sócio da Terra Êxito Empreendimentos Imobiliários, com sede à rua Estados Unidos, no elegante Jardim América, em prédio que posteriormente veio a fazer o usucapião de uma sétima parte ideal e ter o domínio intergral do mesmo.

 

O som marcante de Margriet Eshuys, a cantora e Lucifer o conjunto, a despeito do tempo, permanecem vivos e atuais.

 

Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br
presidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
Autor de Direito Notarial Brasileiro, Leud, 1987
 
 

2 comentários:

  1. Canção que ouvimos tantas vezes e só agora descobrimos como e quem era a cantora!!

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  2. Gostei da crônica e da música, parabéns Roberto. S.Paulo, 06.12.2021

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