Memória –nº52
Self Pity - 1978
Fora a trabalho cuidar do seu
loteamento e tivera que permanecer por lá. Só, por acaso no rádio do carro,
ouviu pela primeira vez Self Pity,
estacionado vendo a chuva, num campanário, próximo a Fonte do Senhor. Havia um
circo decadente e pensava se iria assistir ou não o espetáculo.
(....)
A música o marcou
profundamente. O cenário daquela noite fria e chuvosa em Iguape, na angustia de
estar só, longe da mulher e do filho recém-nascido, do cartório, do escritório,
em busca de um destino como empreendedor, fez com que a reflexão daquela noite,
viesse a perpetuar a letra, o som, a melodia e gravá-la na memória...
(...)
O tempo passou. E passa
rápido. Passa muito rápido que nem se percebe, mas quando se dá conta,
passou... e não tem volta.Lourenço residia em Gurupi,advogado com banca
reconhecida e próspera no Estado do Tocantins, presidente da OAB, estava
chegando em casa, quando ia estacionar seu carro, era sábado e já passava das
19 horas, e ouviu Self Pity.
Estacionou junto ao meio fio
da frente de sua casa e permaneceu ouvindo parado, repetindo o comportamento
quase ritual quando oportunizada ouvir a música tão marcante.
Num estalo, resolveu ir até a
estação de rádio para grava-la. Eram anos e anos que tentava ter a música
gravada ou de algum modo consigo, mas nunca tivera a oportunidade. Chegara a
hora.
Aquela época residia na
esquina da rua 7, com a avenida São Paulo, praticamente no centro da próspera
cidade e a estação da Rádio Araguaia FM, única na cidade, ficava no topo norte,
próximo a BR153, no Distrito Industrial ou proximidades.
Interessante que existiam
funcionando apenas uma estação de rádio e quatro estações de televisão na
cidade. Paradoxos de um país em movimento e inexplicável.
Um estúdio abaixo da torre de
transmissão do grupo de comunicação goiano Anhanguera. Uma casinha, na qual o
locutor permanecia trancado, exercendo seu oficio com bastante
profissionalismo, na elevação em destaque, que permitia observar toda a
extensão ao longo de 360º graus, incluindo a cidade, o aeroporto e as
incontáveis fazendas de gado.
Noite quente, típica do
Planalto Central, do norte goiano, do abençoado e pré destinado Estado do
Tocantins. Amazônia legal. Calor abafado. Chegou, estacionou, bateu, aguardou, se apresentou, entrou e
explicou que ouvira u’a música e queria grava-la. Fazia uns doze ou treze anos
que queria a música, mas não sabia o nome e não tinha referencia, salvo uma
única:
- Lúcifer.
Sim, esse nome sabia décor,
mas não sabia se era o conjunto, o
cantor, o nome da música... Enfim, deu o nome e disse que fora ao ar há uns
quinze ou vinte minutos antes, propiciando o locutor procurar na listagem em
seu poder, elaborada, por incrível que possa parecer, em Goiânia, sede da
empresa para a qual trabalhava.
- Passa segunda feira nesse
horário que te entrego a fita gravada.
A fita foi regravada com
outras músicas de seu gosto. O tempo passou. O tempo não para e da fita, já
obsoleta, posteriormente trasladou para um CD. Depois de muitos anos, com a
tradução, percebeu que o texto daquela melodia tinha algo a haver com a noite
melancólica, chuvosa e solitária de 1978 ou 1979, à beira do canal em Iguape,
quando ainda era sócio da Terra Êxito Empreendimentos Imobiliários, com sede à
rua Estados Unidos, no elegante Jardim América, em prédio que posteriormente
veio a fazer o usucapião de uma sétima parte ideal e ter o domínio intergral do
mesmo.
O som marcante de Margriet Eshuys, a cantora e Lucifer o
conjunto, a despeito do tempo, permanecem vivos e atuais.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.brpresidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
Autor de Direito Notarial Brasileiro, Leud, 1987
Canção que ouvimos tantas vezes e só agora descobrimos como e quem era a cantora!!
ResponderExcluirGostei da crônica e da música, parabéns Roberto. S.Paulo, 06.12.2021
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