Memória Nº 55.
A ponte velha.
Itanhaém é atravessada pelo
sinuoso rio que leva o nome da cidade, dando através de suas curvas o charme
envolvente que tem levado ao longo do tempo milhares de pessoas a retratarem
por ângulos variados tanto encantamento. A partir de 1912, com a inauguração da
Ferrovia que desde o porto de Santos segue para o Vale do Ribeira, o rio
Itanhaém foi cortado por uma ponte, inicialmente exclusivamente ferroviária e
posteriormente adaptada, transformada em rodoferroviária após o término da II
guerra mundial.
A ponte passou a suportar um
movimento de veículos intenso e constante, dispondo de um funcionário da
ferrovia que cuidava das porteiras que eram fechadas para que as composições
atravessassem, impedindo o fluxo de autos.
O guarda ficava numa guarita
com comunicação telefônica direta com a estação
principal, situada na Vila, e igualmente com a outra estação,
provavelmente em Peruíbe, que avisava ter o trem saído, mandando o funcionário
fechar as porteiras. Dia e noite 24 horas... e sem piedade, a turma de garotos,
que da Prainha iam à pé, para a Vila, somando ora 20, ora 30 ou 50 crianças,
não poupavam e em coro gritavam repetidas vezes durante o trajeto:
- O guarda da ponte é
viado... O guarda....
A tropa infanto juvenil
atravessava os 500 metros de ponte cantando
a ofensa ao inocente trabalhador que era obrigado a suportar a agressão moral...
até que um dia, um deles, saiu atrás das crianças que corriam pelo corredor de
pedestres, anexo ao leito rodoferroviário e deu alguns tiros para cima.
Nessa oportunidade Lourenço
não estava. Mas noutra, quando descobriram que na Avenida do Mar, hoje
Presidente Kennedy, havia um poste com um registro no qual, bastava desliga-lo
e toda a iluminação pública da Prainha, Praia dos Sonhos e quem sabe Belas
Artes e Cibratel se apagava... iniciaram as mesmas crianças a costumeiramente
em horários distintos, ora as 20 h, ora as 22 h ou mesmo por volta das 17 h, de
modo que não chegasse a acender, a prática do serviço de economia, poupando a
Prefeitura Municipal de pagar as tarifas devidas a Usina Termoelétrica de
Juquiá, que abastecia de energia elétrica todo o litoral sul.
Posteriormente, já esses
jovens, meio adultos alguns, ainda crianças outros, passaram a ter seus
automóveis ou emprestá-los dos pais, e
articulavam a interrupção da travessia da ponte. Engendravam tumultuar
todo trânsito de veículos da cidade que se viam impedidos de cruzarem o rio em
qualquer dos sentidos.
Uns seguiam da Vila em
direção à Prainha e outros, fingindo não perceberem, seguiam em direção contrária
se encontrando no meio da ponte, descendo e simulando discussão... Confusão
geral. Buzinação e desespero do guarda da Cia. Sorocabana, dado o aviso da
vinda do trem...
A confusão era tal que
substituíram a porteira por guardas municipais e depois por semáforos... mas
não eram obedecidas as instruções eletrônicas ou dos servidores públicos e se
quer da Estrada de Ferro Sorocabana.
A situação caótica simulada
só deixou de existir quando essa turma de jovens cresceu e foi construída nova
ponte, deixando a velha, apenas para a Fepasa, então concessionária da
ferrovia, usa-la com exclusividade.
História que vem a lembrança
que se reporta a essa mesma época, é que numa determinada manhã, foi decidido
que iriam para o Cibratel. Alguns jovens da turma: Trappé, Cleso, Aurélio,
Nino, Eduardo e Lourenço. Iriam na perua C 14, pertencente ao Hotel Ca
D’oro,que durante o período de férias ficava dando apoio aos proprietários.
O motorista os levariam até a
praia e permaneceria por lá. Iriam se encontrar com outros jovens, jogar
futebol, nadar por lá...Iriam encontrar uns jovens italianos amigos da família
do Aurélio, apelidados por Trapatones, em homenagem ao jogador da seleção
azurra.
O automóvel estava na
garagem, nos fundos da casa, e todos já haviam entrado, menos Lourenço que
ficou para abrir o portão, fecha-lo e seguir com os amigos. No entanto, o
portão emperrou e Lourenço não conseguia abri-lo. Gritou, fez sinal, porém a
perua não parou e, num lance de intuição, Lourenço de um salto, se esquivando
do acidente, pois a perua atropelou o portão. Destruiu o portão de entrada da
casa.
A bagunça no veículo era
tanta que o motorista não escutou o aviso e também não percebeu que o portão
permanecia fechado e foi com toda a velocidade que a marcha à ré permitia.
Lourenço se safou de um
grande acidente cujas consequências seriam muito sérias.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.brMembro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras
Nenhum comentário:
Postar um comentário