Lembranças amargas x Homem amarelo.
Conheço pessoas que são muito apegadas às lembranças. São
álbuns de fotos já amareladas, tiradas do tempo das máquinas caixão; são pedrinhas achadas na beira
da cascata daquele sítio gracioso que num passado remoto passara o final de
ano, ou aquela conchinha da praia que passou lua de mel, talvez com quem já se
quer convive; são quadrinhos,
enfeitinhos, recortes de jornal; são tickt’s do ingresso do teatro ou da final
do campeonato; são coisas e coisinhas trazidas para casa ao longo de uma vida
que representam momentos alegres, felizes que constituem o patrimônio de
lembranças que não pretende se desfazer.
Trata-se de reserva mental traduzida em matéria para que
ajude o cérebro preservar momentos que
não se pretende esquecer.
No entanto, também conheço aqueles que também apegados a
essas matérias, as guardam, ainda que representem momentos desagradáveis do
passado. Uma foto, cortada, excluindo persona
non grata; um livro roto e desbotado, com dedicatória daquele que fora
intimo mas já não traz boas lembranças; enfeites no banheiro, na sala e até no
automóvel, como símbolos interiores que na verdade trata-se da grande expressão
ao apego às coisas, independente da origem ou da recordação que envolve.
São tantas as pessoas
presas às minúcias e detalhes de passados que deveriam ser esquecidos, mas que
estão vivos e muito claro nas idéias, dado o envolvimento do ser e do ter.
Pessoas que não se desvencilham dos penduricalhos que de nada servem, não
trazem boas lembranças ou ajudam no engrandecimento íntimo. Pessoas amarradas à
história que deveriam desprezar, evitando mante-las vivas para que, livre e
leve, pudessem no presente, viver intensamente, esquecendo os dissabores que as
curvas e ladeiras da vida oferecem a todos no sempre.
A vida cheia de altos e baixos, ao longo da minha história,
tem propiciado incontáveis momentos de felicidade. Quer ao lado de gente
agradável, amigos, parentes, família enfim; quer nas atividades profissionais
ou no lazer. Tem me dado oportunidade de estar em lugares maravilhosos e
inesquecíveis, que não saem da lembrança e me instigam a repetir momentos.
Guardo comigo coisas, enfeites, papéis, documentos que me
ajudam a auferir o patrimônio incomensurável construído com gentes em lugares.
Lembranças que ajudam a fluir toda a êxtase da vida, evitando que o desgaste da
idade, diminuam as indispensáveis
defesas da boa saúde física e mental.
Recordo intensamente dos fatos vividos, das situações
especiais e dos momentos com seres cuja companhia me ajudou a ser feliz. Prezo
a lembrança e a guardo a sete chaves. Me ajudam a escalar os difíceis
obstáculos que, por mais que os evite, os encontro no dia a dia da rota a
seguir.
Mas fujo das lembranças desagradáveis. Dos lugares que não
me trouxeram alegria. Das pessoas que, por isso ou por aquilo, provocaram
sentimentos que me fragilizaram num determinado tempo. Fujo mentalmente de
qualquer possibilidade de ter que recordar de trechos tristes de uma história
feliz.
Portanto, sem delongas, expresso compaixão dos seres rotos, amarelados
e desgastados pelo tempo, nem sempre vivido de modo agradável, os quais constituem-se
em turba de autônomos imbecilizados que guarnecem penduricalhos, apenas para
te-los, sem aperceberem-se que essas miçangas mantém vivo o que passou e que
deve ser sublevado para dar lugar a situações maravilhosas que estamos todos
destinados a viver, mas que para tanto, é preciso ir ao encontro. Saber encontrá-las.
Tenho pena, muita pena dessas pessoas que avarentas e
egoístas que guardam roto um livro velho, dado pelo amor que se foi, só por guardá-lo,
assim como guarda toda e qualquer coisa, adquirida, seja de quem for.
Avarentos imbecis !
Roberto J. Pugliesewww.pugliesegomes.com.br
Membro da Academia Itanhaense de Letras.
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