Memória 14
O mistério da morte sempre presente.
Por volta de 1954, talvez em
Julho, na Prainha ou Praia dos Pescadores, como também é conhecida, em
Itanhaém, estava com sua mãe e seu irmão quando, por descuido, uma onda mais
forte o arrebatou e o levou.
Faz muitos anos, mais de cinqüenta e tem na memória, ainda pedaços
do triste acontecimento. Lembra-se que bebia muita água e sua mãe, já bem gorda
por estar grávida e prestes a dar luz de sua irmã caçula, com o seu irmão no
colo, tentava alcançá-lo em vão.
Bebia muita água. Afundava e
flutuava... Repetidas vezes, afogando-se. O mar o levava... E sua mãe com o
irmãozinho no colo tentava buscá-lo, mas não o alcançava. Um senhor percebendo
o incidente adentrou chegando ao seu encontro o puxou d’água e o salvou do
afogamento que acontecia.
Passados os anos, próximo
ao feriado de 7 de Setembro, talvez dia
15, foi à mesma Itanhaém, para tratar de assuntos profissionais. Reuniu-se com
Elias, saudoso filho da senhora que vendia cocada pelas ruas da Praia dos
Sonhos, Prainha e imediações, falecido prematuramente recentemente;l Waldir e
outros na casa do primeiro, e por não
estar se sentindo bem do estomago, abriu mão dos acepipes e se quer bebericou
durante a reunião.
Por volta das 14 horas ou um
pouco mais tarde, partiu de volta para São Francisco do Sul, onde residia.
Pretendia parar na cidade de Registro para assistir o clássico entre São Paulo
e Santos, um jogo de futebol importante na ocasião em razão da tabela,
pontuação, rivalidade e após, seguir viagem.
Interessante assinalar que
Lourenço conhece a região desde seus 3 anos de idade e a estrada da banana, SP 55, rodovia Pe. Manoel da Nòbrega, desde que
a ligação entre Itanhaém e a BR.116 era de terra. Conhece como a palma de sua
mão. Inclusive conhece bem os municípios pelos quais a rodovia atravessa,
alguns de seus distritos e tem alguns conhecidos por lá.
Sem exagero, sabe direitinho
o relevo e as minúcias da rodovia, sendo uma estrada na qual se sente em casa
ao transitar por lá. Ademais, motorista que é desde os 14 anos de idade, tem
muita experiência no volante, inclusive nas rodovias e currículo impecável na
direção de auto de passeio.
Costuma exibir com orgulho
suas duas carteiras de habilitação de corredor de automóvel, expedidas pela
Federação.
Com tudo favorável, naquele
sábado ensolarado, já se encontrava nas proximidades de Itariri, próximo ao
Hotel Juréia, antes da ponte, numa reta que permite ultrapassagem, posto ser
pista única a rodovia, assim procedeu passando por uma carreta de carga de
automóveis que do ABC paulista seguia na mesma direção e após a referida ponte,
cruzou pelo acostamento de sua mão de direção, de forma a facilitar a curva que
a estrada faz à direita, em direção ao sul do país.
Ocorre que Lourenço não
contava que o acostamento sem pavimentação e com pedriscos, tirasse o
automóvel, que estava leve, de sua fixação firme ao solo, de modo que ao
adentrar no acostamento, praticamente perdeu o controle.
Em velocidade sobre as
pedrinhas soltas e secas, o automóvel vazio e leve ficou sem controle do
motorista, obrigando a retornar cuidadosamente à pista da rodovia.
Com a sua experiência
raciocinou que jogaria as rodas do lado esquerdo no asfalto fixando-as
novamente e assumindo o controle perdido
e depois retornaria como o veículo inteiramente na faixa de rolamento. No
entanto, ao fixar a roda esquerda da frente no solo asfáltico, foi como se tivesse
promovida bruscamente uma freada e o
auto rodou. Girou 90º graus e de ré, atravessou a pista em direção a entrada do
hotel do outro lado da rodovia.
Nesse instante percebeu que a
carreta que ultrapassara estava bem próxima e que em sentido contrário, outra,
vindo do sul, em direção a Itanhaem, se aproximava.
Atravessando a pista de ré,
sem qualquer comando sobre o carro, sentiu quando chegou novamente ao
acostamento da pista contrária, junto ao hotel e escutou algo inesquecível:
- BRECA, BRECA, BRECA !
Por três vezes um comando
firme, seguido e forte determinou que brecasse. E assim o fez, conseguindo
parar o veículo, há uns 30 ou 40 centímetros do muro do hotel.
Por ser um hotel o acostamento não tem a largura tradicional,
sendo uma verdadeira área de escape, com relva e matinho, de modo a permitir o
estacionamento e manobras de qualquer veículo. Assim, a área sendo grande, fez
com que o automóvel próximo ao muro e numa posição perpendicular ao asfalto da
rodovia que atravessara, ainda ficasse uns 2 ou 3 metros do leito da estrada.
A essa altura os dois
caminhões pararam, cada um na sua mão de direção e os motoristas, desceram e
foram ao seu encontro que estava bastante assustado e paralisado dentro do
automóvel.
- Você é louco. Poderia ter sofrido
um acidente fatal, disse um dos motoristas.
Depois de alguns minutos,
após verificar a lataria e experimentar o veículo vistoriando a existência de
algum dano, reiniciou a viagem, bastante tenso.
Seguindo viagem, naquele meio
de tarde de sábado, entrou na cidade de Pedro de Toledo, foi a uma oficina
mecânica que se encontrava aberta e fez uma vistoria no automóvel. O carro foi
suspenso e o mecânico olhou minuciosamente
o sistema de direção, rodas, freios... E como tudo estava em ordem e a
hora do jogo se aproximava, foi até Miracatu, um tanto mais adiante, há 60 Km. antes
de Registro onde houvera planejado parar, entrou num bar e assistiu o jogo
entre São Paulo e Santos.
Mais calmo, à noite chegou a
sua casa e contou o que acontecera.
Interessante e merece relatar
que no momento que o veículo atravessou
a pista, fora de seu controle, de ré, saindo da mão para o outro lado, viu
nitidamente os momentos que aos 4 ou quase 5 anos de idade, quase morreu afogado.
Viu rapidamente a cena que pelo tempo praticamente já havia esquecido.
O intriga bastante também a
voz que mandou que brecasse, identificada como sendo de seu pai, falecido em
Dezembro do ano anterior.
Sem comentários outros.
Agora tem certeza: Foi em 15
de Setembro de 2007, um sábado. Provavelmente o dia que tornou a nascer.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.brMembro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Membro da cadeira nº 35 da Academia São José de Letras.
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