Memória nº 21 -
Taubaté – Apenas lembranças.
Taubaté a conhecida cidade do Vale do Paraíba, fundada em
1628 por ordem de Mariana de Souza Guerra, a Condessa de Vimeiros, sobrinha neta de Martim Afonso de Souza, ao
tempo que então governava a Capitania de São Vicente, da capital improvisada na
vila de Conceição de Itanhaém. Num momento da história foi elevada a 2ª.
Comarca da Provincia de São Paulo e do solo fértil de seu território, entre
tantos destacados ilustres personagens, é possível trazer a lume, sem muito
esforço, José Bento Monteiro Lobato, Hebe Camargo, Cely Campelo, Yara Salles,
José Carlos Moreira Alves, Cid Moreira e infinidade de outros nomes que
engrandeceram as ciencias políticas e jurídicas, as artes e as letras de São
Paulo e do Brasil.
Pois foi nessa estação da Central do Brasil, que em 1888,
Conceição nasceu. Seus pais iam do Rio de Janeiro para Campinas, mas para que
Anna desce à luz, ficaram uns dias na já progressista cidade que margeia o Rio
Paraiba, à sombra da Mantiqueira e da Serra do Mar.
Passaram-se os anos. Décadas. Lourenço não se dava bem no
curso médio. Reprovara o primeiro ano do clássico que cursou no Instituto
Mackenzie. Estudara numa turma bem distinta de seu tempo e de sua acanhada
adolescência ainda provinciana, a despeito de ser da capital e nela ser criadao
sempre. Seus colegas já mais maduros e adultos: Mário Belfort, que se tornou
ilustre jornalista; Arnaldo Baptista, que à época estava criando os Mutantes,
Peticov o renomado pintor entre outros.
Recorda-se que certa vez resolveram cabular aula e foram
à casa da namorada do Arnaldo, a Rita, onde os Mutantes ensaiavam... Àquele
tempo também se recorda que fora com La Cordelle, colega de turma, meio parente
do então governador Laudo Natel, conhecer uma casa de tolerancia situada à rua
Alvaro de Carvalho.
Do insucesso educacional do Mack, foi matriculado no
Colégio de São Bento, com mais tradição, rigor e rédias para limitar suas
gazetas. Lá celebrou algumas amizades que as conserva a despeito dos quase cinqüenta
anos de distancia.
Dr. Rafael, depois se tornou seu calouro na PUC; dr.
Cláudio, idem, hoje Procurador da República aposentado; dr. Martinelli, que à
época estudava para ser padre e vieram a se encontrar em Joinville, onde mantém
a maior banca de advogados do sul do país... Outra grande amizade foi com o
professor Vailati, sábio advogado que lecionava geografia e que até sua morte
mantiveram contatos.
No Colegio São Bento tornou a ser reprovado. Entre outras
matérias o português, lecionado pelo Chequeto, um capixaba muito exigente, que
determinou a leitura de O Bobo, de Alexandre Herculano, um livro escrito
noutros tempos reportando-se à idade média em Portugal... Um porre para um
adolescente.
Pela terceira vez cursava o primeiro clássico, versão especializada
do colegial, voltado para ciências humanos e, a turma se indispôs com o
professor de latim.
Democraticamente estabeleceram que iriam impor à direção
da escola que se não fosse dispensado o professor, todos os 16 alunos da sala,
sairiam do colégio... E no final do embate, o professor não foi dispensado e 14
colegas se afinaram. Apenas Lourenço e Bellardi saíram.
A solução era prestar o exame de Madureza, uma forma
especial de conclusão do curso médio, para poder habilitar-se ao vestibular. E
foi o que fez. Ao invés de matricular-se num curso preparatório desses exames,
resolveu matricular-se no pré vestibular, o Cursinho Castelões, que preparava
para ingresso na Faculade de Direito e enfrentar o exame de Madureza sem
qualquer preparação especial, valendo-se do seu conhecimento e ciência
adquirida nos longos 3 anos de reprovações e pesquisas culturais que sempre
fizera.
E o exame foi marcado. Seriam 5 matérias na primeira
etapa e 3 na última, à realizar-se no Colégio Estadual na cidade de Taubaté,
onde no século anterior sua avó nascera. Ele e Bellardi ficaram numa pensão
próxima a uma praça no centro da cidade. Recorda-se que o estabelecimento não
primava pela limpeza, conforme confabulavam durante as noites, as baratas e
outros peçonhentos.
Passados alguns meses retornou à cidade e realizou os
demais exames faltantes, concluindo o II grau e se habilitando a prestar o
vestibular. Ainda naquele mesmo ano, 1969 prestou vestibular na USP e na PUC,
passando na segunda e ingressando no Curso de Direito em 1970.
As duas semanas que esteve em Taubaté, instalado na
pensão, para prestar o exame, recorda-se bem que foram bem vividas em todos os
sentidos: Estudos e amizades novas. Passeios pela cidade e a satisfação de
estar só, quase independente, se sentindo dono do próprio nariz.
Taubaté, a cidade de sua avó, foi sua morada por dias, na
sua adolescência.
Anos depois, já casado, retornou à mesma cidade com seu
primo Tom, para tentar buscar uma solução para o primo Carlinhos que acometido
de câncer, estava sofrendo na cama, com mulher e três filhos bem pequenos. Dor e sofrimento indiscritível. Tristeza geral.
Na cidade havia o Instituto Cembranelli, sob a direção de
um cientista que emprestava o nome ao centro médico e que elaborava vacinas
para esse tratamento, com base em qualquer coisa, talvez sangue de muares...
mas infelizmente não deu certo e depois de muito sofrimento, Carlos Francisco
morreu.
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