NOTA PÚBLICA DE REPÚDIO
ÀS DECLARAÇOES DA DELEGADA GERAL DE POLICIA DO MARANHÃO
Em entrevista dia 04 de maio de 2012, concedida à
TV Mirante/Globo, a Delegada-Geral do Maranhão, Maria Cristina Resende afirmou
que em relação aos assassinatos no campo “não há disputas agrárias
envolvidas. Trata-se de problemas pessoais entre vizinhos, nos assentamentos,
ou de acertos de contas do tráfico de drogas, em áreas indígenas.” No
dia 05 de maio de 2012, em entrevista ao Estado do Maranhão, a
Delegada-Geral afirmou que “crime de pistolagem passa por tomada ou
manutenção no poder, de grupos que contratam outros grupos armados, para essa
manutenção”.
O Estado do Maranhão é Terra com Lei: lei da bala,
da marra, do tiro e da pistolagem. Os inúmeros casos trazidos pela CPT atestam
que uma onda criminosa sempre esteve presente no interior do Maranhão e, em
decorrência do apoio oficial do Estado do Maranhão, pistoleiros tornaram-se
personagens famosos, como o “lendário” Jararaca e Cearense Carlos, responsáveis
pela matança de dezenas de trabalhadores rurais de Santa Luzia, ou do alcunhado
como Pernambuco, com forte atuação até recentemente, na zona rural de Caxias,
Aldeias Altas e Codó, a serviço da Empresa Costa Pinto.
No Maranhão, pistolagem anda junto com grilagem,
latifúndio, reintegração de posse e com sucessivos governos que arrasaram essas
terras.
Os dados referentes à violência no campo indicam
que a ação oficial do Estado do Maranhão, ao abrir suas fronteiras agrícolas
(Lei de Terra 2.979 de
julho de 1969) através da espoliação de milhões de
hectares de terras pertencentes aos camponeses, ribeirinhos, índios,
quilombolas e posseiros, foi responsável pela passagem da matança ao genocídio
contra centenas de comunidades. Assim, como um adágio, as afirmações da
Delegada se inserem nas repetições históricas não como tragédia, mas como
farsa! E, com certeza, foram recebidas efusivamente por pistoleiros e seus
patrões.
As mortes denunciadas pela Comissão
Pastoral da Terra se relacionam profundamente: todas as vítimas eram lideranças
políticas em suas comunidades, denunciavam arbitrariedades cometidas por
agentes privados e públicos. Nesse sentido, os assassinatos cumprem a trágica
função de manutenção do status quo de grupos políticos e econômicos que
dominam o Estado do Maranhão.
As afirmações da Delegada Geral são
levianas e equivocadas. Por que o assassinato de um jornalista do império da
comunicação do grupo oligárquico que domina o Maranhão é classificado como
crime de pistolagem/encomenda e o assassinato de lideranças camponesas e
indígenas, brigas entre vizinhos e/ou acerto de contas do tráfico de drogas? É
verdade que as MOTIVAÇÕES são muito diferentes e os mundos dos dois são
infinitamente diferentes e opostos.
As afirmações se assentam no velho e
repugnante preconceito racial e/ou de classe. Raimundo Borges, assassinado no
dia 14 de abril de 2012, em Buriticupu, era um retirante da seca, desterrado
pelas cercas do latifúndio, um homem que lutou dignamente por um pedaço de chão
para si e para milhares de outros companheiros e companheiras. Maria Amélia
Guajajara, assassinada em 28 de abril, era mulher indígena em luta pela
dignidade do seu povo e em defesa do território.
A Comissão Pastoral da Terra reafirma
que a pistolagem no Estado do Maranhão é mecanismo político utilizado por
latifundiários há décadas com o objetivo de eliminar fisicamente qualquer
antagonismo aos domínios das velhas cercas oligárquicas que transformaram o
Maranhão em terra dos mais baixos índices de qualidade de vida.
São Luís – MA, maio de 2012
Coordenação Regional
CPT MA
Nenhum comentário:
Postar um comentário