02 março 2012

Bertolt Brechet - A história da fuga.

Bertolt
Brecht fugiu da Alemanha nazista em 28 de fevereiro de 1933, um dia após o
incêndio do Reichstag. O escritor sabia que logo começaria a caça à esquerda e
aos opositores do regime de Hitler

No dia em
que em que deixou a Alemanha, em 28 de fevereiro de 1933, a
notícia nem sequer saiu no jornal. Ele não anunciara que iria deixar o país, e o
tema das manchetes do dia era outro: o incêndio do Reichstag, na véspera.

A polícia
responsabilizou a esquerda e logo apresentou o suposto autor do incêndio. Os
nazistas aproveitaram para prender um grande número de sindicalistas,
socialistas e comunistas, que foram enviados aos primeiros campos de
concentração, improvisados para esse fim.

Como nenhum outro intelectual, Brecht previra a catástrofe iminente, o que
aconteceria se os nazistas assumissem o poder na Alemanha. Sua Lied vom
SA-Mann (Canção do homem da SA) deixa transparecer toda a sua
clarividência. Nela, ele descreve como a depressão no final da década de 1920,
as batalhas de rua e as eternas crises de governo culminariam nas barbáries do
Terceiro Reich.

“Dormi de fome, com o estômago roncando. Pegando no sono ouvi
gritarem: ‘Acorda Alemanha’. E vi muitos marcharem gritando ‘Vamos ao Terceiro
Reich!’ Eu não tinha nada a perder e fui com eles, sem me importar para
onde.”

Em 1933, aconteceu o que se temia e Adolf Hitler tornou-se chanceler do Reich. No mais
tardar, após a tenebrosa marcha com tochas pelo Portão de Brandemburgo, em
Berlim, em honra ao novo detentor do poder, ficou claro que a sombria intuição
de Brecht logo se transformaria em realidade.

Não demorou muito e começou o êxodo dos
intelectuais alemães. Nem todos, porém, quiseram ou puderam fugir a tempo, como
o detentor do Prêmio Nobel da Paz Carl von Ossietzky, que foi levado a um campo
de concentração e morreu em consequência das torturas.

Outros,
como o escritor Erich Kästner, se retiraram da vida pública e assim sobreviveram
ao “reino de mil anos” que Hitler pretendia instituir. A história, contudo, se
lembra mais dos que quiseram conseguiram escapar: Albert Einstein, os escritores
Lion Feuchtwanger, Thomas Mann, Erich Maria Remarque, os músicos Kleiber, Busch,
Klemperer e muitos outros.

Brecht foi um dos primeiros a deixar o país, por saber o que o aguardava quando o partido
de Hitler começasse a colocar em prática suas ameaças. Num poema em prosa, ele
expôs as razões de sua perseguição:
“Quando me forçaram ao exílio, os jornais
publicaram que foi por uma poesia minha, ridicularizando o soldado da Primeira
Guerra Mundial. Agora, quando eles preparam uma nova guerra mundial, decididos a
superar as monstruosidades da última, é quando se persegue ou se mata gente como
eu, por delatar os seus atentados”.

A lenda do soldado
morto. A poesia a
que Brecht se refere, que teria inspirado o ódio dos nazistas, é Legende von
toten Soldaten(Lenda do soldado morto), um poema pacifista que se refere à
Primeira Guerra Mundial.

Como faltassem soldados ao exército do Império Alemão, decidiu-se desenterrar um
soldado que morrera, vesti-lo com um novo uniforme e arranjá-lo para que
passasse pelo exame médico e fosse mandado de volta ao front. Sob os aplausos do
clero e dos representantes do grande capital, o defunto foi enviado ao campo de
batalha para morrer como herói.

Os nazistas não odiavam apenas o poeta Bertolt Brecht, odiavam também o seu
pacifismo e o fato de ele ser comunista. Na sua Balada da árvore e dos
galhos, de 1931, Brecht antecipou o comportamento assassino das hordas
nazistas, no dia em que pudessem agir livremente.

Com sua
visão, Brecht decidiu fugir assim que soube do incêndio do prédio do Reichstag.
Um dia depois, na manhã de 28 de fevereiro de 1933, deixava Berlim em direção a
Praga. Da capital da então Tchecoslováquia foi a Viena, de lá até a Suíça e a
seguir para a Dinamarca, onde se radicou por alguns anos.

O exílio o
levaria ainda à Finlândia e aos Estados Unidos. O autor de A Ópera dos três
vinténs e de outras obras inesquecíveis conseguiu escapar de Berlim antes
de começar a primeira onda de prisões do novo regime, que afundaria a Alemanha e
o mundo numa guerra sem precedentes.

Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.combr

( Por Dirk Kaufmann (ns) - Fonte: Deutsche Welle
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=176711&id_secao=11 )

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