A Comissão Verdade – Desiderata.
A direita brasileira é diferente das
direitas do Chile, da Argentina, da Europa e dos EUA. Essas direitas assumem
suas bandeiras, aceitam a disputa do jogo eleitoral democrático, organizam-se
em partidos políticos, tornam transparentes seus pleitos, mesmo os que pedem a
deflagração de guerras ou tratamento cruel para presos comuns e políticos.
A direita brasileira não tem essa
tradição. Aqui ela não participa do jogo democrático, dos partidos políticos,
camufla seus apetites autoritários em falsos discursos de defesa da democracia.
A direita brasileira age nas sombras, nos vácuos de poder, é carpideira de
apoios fardados, infiltra-se nos partidos e nos movimentos sociais não para
fazer política, mas para praticar a antipolítica com incentivos a ações de
provocação.
A direita brasileira é uma força social
provocadora de crises para delas tirar proveito. Ela está fortemente presente
nos clubes de militares das forças armadas, entidades que são por ela
circunstancialmente aparelhadas e instrumentalizadas com o fim de criar
tumultos políticos, o enfraquecimento e a desmoralização de governos
democráticos, sejam esses governos de liberais, do centro, do centro-direita ou
de esquerda. Ela não está parada. Está agindo. Está conspirando. Não é difícil
identificar por onde andam a pousar essas aves de rapina. São grupos formados,
no seu braço mais ativo, por ex-militares e ex-policiais que participaram da
repressão, que torturaram e comandaram torturas, que praticaram assassinatos de
adversários da ditadura e deram respaldo aos grupos de extermínio de
brasileiros pobres infratores da lei, e por seus cúmplices, militares e civis.
Atualmente, essa direita se articula em
torno da bandeira contra a Comissão da Verdade e constrói seu discurso nos
velhos moldes do pseudomoralismo. É um grande erro político estratégico
localizar essa direita nas forças políticas institucionalizadas que fazem
oposição ao governo federal, como são os casos do PSDB, do DEM, do PPS. Essa
direita a qual me refiro se lixa para a institucionalidade democrática. O que
ela busca é a institucionalidade sem legitimidade popular, é a homogeneização
da política em torno de um projeto único e autoritário, a eliminação das
políticas sociais e culturais que dão conta do avançado estágio em que o Brasil
se encontra, no reconhecimento dos direitos das minorias sociais, cujos
exemplos mais marcantes são o direito reconhecido para as relações
homoafetivas, para as populações indígenas, as ações afirmativas, a função
social da propriedade privada, o ativismo judiciário que atualiza direitos sem
necessidade da existência de leis positivadas, mas com esteio nos desígnios
principiológicos da nossa Carta Magna, a possibilidade da existência de
governos comprometidos com a igualdade social, a efetivação dos direitos
humanos e da livre expressão do pensamento e do direito cidadão de se organizar
social e politicamente.
Enfim, essa direita é contra a
Constituição de 1988 e o estado democrático e de direito. Essa direita tem
verdadeiro pavor a disputas eleitorais quer por razões de ordem prática (não é
boa de urna), quer por razões ideológicas (para ela, disputa eleitoral é fator
de desestabilização da ordem).
Não devemos entrar em seu jogo
provocador. Não se deve dar resposta política a suas notas e manifestos, pois
qualquer posição reativa significa dar legitimidade a quem só quer solapar a
institucionalidade democrática. Mas, isso não significa passividade e omissão.
Pelo contrario, é preciso fazer o que não se tem feito. Tomemos como exemplo a
Comissão da Verdade. É preciso tirar essa Comissão do gueto, trazê-la para o
seio da sociedade. Nossa ação deve ser afirmativa e protagônica. É chegado o
momento de mobilizar intelectuais, estudantes, trabalhadores, religiosos,
empresários, organizações do campo democrático como sindicatos, OAB, Ongs e
tantas outras, para o apoio à instalação e funcionamento da Comissão da
Verdade.
Levar os objetivos para os quais foi
criada para as universidades e locais de trabalho a fim de que se transformem
em objetivos da sociedade, em esteios da efetivação da democracia e em barreira
para qualquer aventura política não democrática.
O produto dessa Comissão, para além de
recuperar a memória e encontrar a verdade sobre as mortes, as torturas e seus
perpetradores, os locais onde esses crimes foram cometidos, as fontes de
financiamento dos centros de terror, deve produzir recomendações politicamente
imperativas que levem a uma profunda mudança institucional das nossas Forças
Armadas. Mudanças que implicam o seu mais radical ajustamento institucional aos
ditames da Constituição de 1988, desde a doutrina que é professada nas escolas
de formação de oficiais e praças, à incorporação do espírito de subordinação ao
poder civil como valor a ser cultuado.
Não são as Forças Armadas a «nação em
armas» como soem dizer certos militares. Elas são brasileiros(as) em armas,
institucionalmente organizados a serviço da nação e, por isso, subordinados ao
poder legitimado pelo voto popular e legalmente representado e condensado na
figura de seu/sua comandante em chefe, o(a) Presidente(a) da República.
* Pedro Albuquerque,
Sociólogo, advogado e professor.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br
Conselho Editorial (inspirado) Carlos H. Conny, presidente; M. Covas, Miguel S. Dias, W. Furlan, Edegar Tavares, Carlos Lira, Plínio Marcos, Lamarca, Pe. João XXX, Sérgio Sérvulo da Cunha, H. Libereck, Carlos Barbosa, W. Zaclis, Plínio de A. Sampaio, Mário de Andrade, H. Vailat, G. Russomanno, Tabelião Gorgone, Pedro de Toledo, Pe. Paulo Rezende, Tabelião Molina, Rita Lee, Izaurinha Garcia, Elza Soares, Beth Carvalho, Tarcila do Amaral, Magali Guariba, Maria do Fetal,
11 março 2012
Direita inconformada x Soberania Popular
Advogado, paulistano, professor de direito, defensor de direitos humanos. Bacharel pela PUC -SP em 1974, pós graduado em Direito Notarial, Registros Públicos e Educação Ambiental. Defensor de quilombolas, caiçaras, indígenas, pescadores artesanais... Edita o Expresso Vida.
Autor de diversos livros jurídicos.São incontáveis os artigos jurídicos publicados em revistas especializadas, jornais etc. Integra a Academia Eldoradense de Letras,Academia Itanhaense de Letras. Titular da cadeira nº 35 da Academia São José de Letras. Integra o Instituto dos Advogados de Santa Catarina. É presidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos da OAB-Sc. Consultor nacional da Comissão de Direito Notarial e Registraria do Conselho Federal da OAB.Foi presidente por dois mandatos da OAB-TO - Gurupi. Sócio desde 1983 do Lions Clube Internacional. Diretor de Opinião da Associação Comercial de Florianópolis. Sócio de Pugliese e Gomes Advocacia. CIDADÃO HONORÁRIO DA ESTANCIA DE CANANÉIA, SP.
www.pugliesegomes.com.br
Residente em Florianópolis.
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