01 março 2014

As meninas de Itanhaém. ( memória nº 68)


Memória nº68

Benvinda, Paulina, Judith.

 

Por volta de mil novecentos e cinquenta e qualquer coisa, início dos anos sessenta, Itanhaém era uma pequena cidade perdida no final da praia Grande. Seus poucos mais de cinco mil habitantes viviam espalhados desde a divisa com São Vicente ao norte, em vilas de pescadores, até a divisa com Iguape, nas imediações da praia da Juréia.

 

A rodovia era apenas um projeto e na vila, a única rua calçada era a ladeira que da Pça. Pio XII sobe em direção a Pça. Coronel Narciso de Andrade, que mais se assemelhava a um campanário abandonado, com a Igreja de Nossa Senhora Conceição numa ponta, o Palácio da Condessa noutra e a estátua do padre Anchieta entre essas construções destacadas.

 

Havia tão somente a ponte rodoferroviária da Estrada de Ferro Sorocabana para atravessar o Rio Itanhaém e chegar à Prainha, Praia dos Sonhos, Praia de Peruíbe e demais bairros ao sul. Ou então, a travessia era de barco que da praia do Tombo, defronte ao Hotel Pollastrini alguns barqueiros atravessavam até o Porto Novo.

 

E no Porto Novo, junto ao rio, em 1959 foi fundado o Itanhaem Iate Clube, aproveitando as instalações do Bar e Restaurante Santo Antonio.

 

Sigismundo, um alemão ranzinza, gorducho e baixinho, pai de Judith foi contratado como gerente. Sua mulher, alta, magra, mãe da Paulina, Dona Carolina, também descendente de alemães, cuidava do bar. As meninas faziam de tudo um pouco, inclusive, quando surgia oportunidade, no afã da adolescência, se agrupavam com os sócios da mesma idade.

 

Fora de temporada quando o clube estava mais vazio e havia menos tarefas a cumprir, com as meninas mais folgadas, Lourenço ficava longo tempo a papear com uma, com outra, com ambas e as vezes chegava a encontrá-las na vila, onde tomavam sorvetes na tradicional fabrica de Doces de Banana junto a estação da Sorocabana ou iam ao cinema da Dona Zefa.

 

Recorda-se que manteve amizade duradoura com ambas. Na mesma época, logo que foi inaugurada a Avenida do Mar, a que da ponte segue em linha reta até a praia dos Sonhos, depois com o nome alterado para Presidente Kennedy em homenagem ao estadista assassinado no Texas, próximo à praia, a família Guerra mantinha um comércio de secos e molhados anexo a um bar.

 

Recorda-se que eram todos muito gordos. O pai, um dos irmãos e outros personagens daquela família que tinha entre os incontáveis filhos, Benvinda uma menina que chamava a atenção de Lourenço.

 

Não era bonita, mas tinha algo que o perturbava a ponto de aproximar-se e, nas oportunidades que aconteciam, quando ela não estava no comercio ajudando algum adulto, leva-la até a praia ou até a vila, para estarem próximos.

 

Não era namorada. Não era amiga. Era alguma coisa que tentava que fosse e nunca foi.

 

Para Lourenço só ficou a lembrança de ter o que não teve.

 

O tempo passou, perderam o contato, a família Guerra mudou-se da Praia do Sonhos... enfim, restou a recordação morna de um tempo distante que se foi.

 

Roberto J. Pugliese


Membro da Academia Eldoradense de Letras

Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras

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