Memória nº68
Benvinda, Paulina, Judith.
Por volta de mil novecentos e
cinquenta e qualquer coisa, início dos anos sessenta, Itanhaém era uma pequena
cidade perdida no final da praia Grande. Seus poucos mais de cinco mil
habitantes viviam espalhados desde a divisa com São Vicente ao norte, em vilas
de pescadores, até a divisa com Iguape, nas imediações da praia da Juréia.
A rodovia era apenas um
projeto e na vila, a única rua calçada era a ladeira que da Pça. Pio XII sobe
em direção a Pça. Coronel Narciso de Andrade, que mais se assemelhava a um
campanário abandonado, com a Igreja de Nossa Senhora Conceição numa ponta, o
Palácio da Condessa noutra e a estátua do padre Anchieta entre essas
construções destacadas.
Havia tão somente a ponte
rodoferroviária da Estrada de Ferro Sorocabana para atravessar o Rio Itanhaém e
chegar à Prainha, Praia dos Sonhos, Praia de Peruíbe e demais bairros ao sul.
Ou então, a travessia era de barco que da praia do Tombo, defronte ao Hotel
Pollastrini alguns barqueiros atravessavam até o Porto Novo.
E no Porto Novo, junto ao
rio, em 1959 foi fundado o Itanhaem Iate Clube, aproveitando as instalações do
Bar e Restaurante Santo Antonio.
Sigismundo, um alemão
ranzinza, gorducho e baixinho, pai de Judith foi contratado como gerente. Sua
mulher, alta, magra, mãe da Paulina, Dona Carolina, também descendente de
alemães, cuidava do bar. As meninas faziam de tudo um pouco, inclusive, quando
surgia oportunidade, no afã da adolescência, se agrupavam com os sócios da
mesma idade.
Fora de temporada quando o
clube estava mais vazio e havia menos tarefas a cumprir, com as meninas mais
folgadas, Lourenço ficava longo tempo a papear com uma, com outra, com ambas e
as vezes chegava a encontrá-las na vila, onde tomavam sorvetes na tradicional
fabrica de Doces de Banana junto a estação da Sorocabana ou iam ao cinema da
Dona Zefa.
Recorda-se que manteve
amizade duradoura com ambas. Na mesma época, logo que foi inaugurada a Avenida
do Mar, a que da ponte segue em linha reta até a praia dos Sonhos, depois com o
nome alterado para Presidente Kennedy em homenagem ao estadista assassinado no
Texas, próximo à praia, a família Guerra mantinha um comércio de secos e
molhados anexo a um bar.
Recorda-se que eram todos
muito gordos. O pai, um dos irmãos e outros personagens daquela família que
tinha entre os incontáveis filhos, Benvinda uma menina que chamava a atenção de
Lourenço.
Não era bonita, mas tinha
algo que o perturbava a ponto de aproximar-se e, nas oportunidades que
aconteciam, quando ela não estava no comercio ajudando algum adulto, leva-la
até a praia ou até a vila, para estarem próximos.
Não era namorada. Não era
amiga. Era alguma coisa que tentava que fosse e nunca foi.
Para Lourenço só ficou a
lembrança de ter o que não teve.
O tempo passou, perderam o
contato, a família Guerra mudou-se da Praia do Sonhos... enfim, restou a
recordação morna de um tempo distante que se foi.
Roberto J. Pugliese
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular
da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras
Nenhum comentário:
Postar um comentário