Alerta contra a ditadura.
O Expresso Vida transcreve artigo publicado no Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, Rs, em 20 de março de 2014, o mesmo que apoiou a ditadura e que agora, como os demais órgãos do mesmo grupo RBS se apresentam como defensores da democracia e dos direitos humanos.
“ Artigo do presidente da OAB-RS: Lembrar para não repetir.
Por Marcelo Bertoluci – presidente da OAB/RS
Um dos períodos
mais nefastos e nebulosos da história brasileira completa 50 anos: o golpe
militar de 1964. A instauração da ditadura no país está intrinsecamente ligada
à trajetória de lutas da Ordem dos Advogados do Brasil contra o regime e em
defesa das liberdades democráticas.
No
período de repressão, a OAB gaúcha foi presidida de forma corajosa pelo
advogado Justino de Albuquerque Vasconcellos, que, com a contribuição
incansável do cardeal dom Vicente Scherer, na década de 60, defendeu bravamente
os direitos humanos. E, em razão da sua fundamental intervenção, nenhum
advogado preso político perdeu a vida no Estado do Rio Grande do Sul durante os
anos de chumbo. Coube ainda à OAB/RS, em 1978, garantir a libertação dos
uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Díaz, sequestrados em Porto Alegre e
torturados na chamada “Operação Condor” – aliança político-militar entre os
vários regimes militares da América do Sul.
No
momento mais sangrento do regime, na década de 70, a OAB e a Associação
Brasileira de Imprensa, de forma conjunta, denunciaram as agressões
internacionalmente, impedindo que a oposição fosse silenciada por completo.
Mesmo com a forte censura, os horrores patrocinados por parte dos homens de
ferro ganharam lugar nos jornais do país. Foi a Ordem, inclusive, que se
colocou à disposição da viúva do jornalista Vladimir Herzog para elaborar
acusação, responsabilizando o Estado brasileiro pela morte do profissional, que
se tornou um símbolo da luta pelos direitos humanos. Entre as postulações da
OAB no período repressivo, esteve o restabelecimento legal do habeas corpus –
importante instrumento de garantia constitucional, negado a partir de 1968, com
o Ato Institucional 5 (AI-5). Naquela ocasião, a advocacia foi fragilizada, mas
não se abateu.
Na
linha de frente contra o regime de exceção, a OAB lutou ainda pela recuperação
das garantias do Judiciário, pela observação da norma que exige a comunicação
de qualquer prisão à autoridade competente e pela revogação da lei de segurança
nacional. No Rio Grande do Sul, foi deflagrada uma campanha pelos direitos
humanos, a qual abominava a tortura como meio de investigação policial. Em
1978, a OAB/RS foi às ruas com a população pela anistia ampla, geral e
irrestrita. Nem mesmo o atentado na sede da OAB nacional, em agosto de 1980,
que provocou a morte de Lygia Monteiro da Silva, foi capaz de calar a
instituição. Mais uma vez, a voz da amordaçada cidadania foi a OAB, a partir da
campanha das “Diretas Já” e por uma Assembleia Constituinte autônoma e única,
tendo participação ativa da advocacia com propostas que consolidaram a
Constituição Cidadã de 1988. Com o fim dos anos de repressão, chegamos ao
Estado democrático de direito, mas ainda em busca da concretude dos direitos
constitucionais.
Assim,
a OAB/RS promove ato público amanhã, abordando a trajetória do período de
repressão e a resistência ao regime. Passados 50 anos, é o momento de “Lembrar
para não repetir”. “
O
Expresso Vida deixa patente todo o repúdio aos que ainda apoiam o golpe de 31
de março de 1964.
Roberto J. Pugliese
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São
José de Letras
Nenhum comentário:
Postar um comentário