Superagüi: Um parque e uma bióloga.
O Expresso Vida transcreve
reportagem colhida do Diário do Litoral, jornal on line de Guaratuba, que narra
a história do parque nacional e de sua diretora.
Vale à pena a leitura e a
reflexão:
“
Conheça a história
da paranaense que há mais de duas décadas se dedica à proteção do Parque
Nacional do Superagüi, no litoral do Paraná
A bióloga Guadalupe Vivekananda tinha um sonho,
como todos os jovens, ao sair da Universidade Federal do Paraná (UFPR):
contribuir com a conservação da natureza. Só não sabia que esse sonho se
tornaria uma verdadeira paixão.
Há 24 anos, ela convive com as comunidades do
Parque Nacional do Superagüi, unidade de conservação localizada em
Guaraqueçaba, no litoral do Paraná. “Quando fico muito tempo ausente, fico com
coceira na mão para arrumar minha mochila e ir para o Parque. É um caso de
amor”, afirma Guadalupe, primeira mulher a chefiar um parque nacional no
Paraná.
Guadalupe está envolvida com Superagüi desde a
criação do Parque, em abril de 1989, quase a mesma época em que ingressou no
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). Naquele fim de década, poucas
mulheres faziam parte do quadro de funcionários das unidades de conservação,
sobretudo as que tinham por formação a Biologia – a predominância eram
engenheiros florestais e agrônomos, a maior parte homens.
“Vislumbrei uma oportunidade de abrir uma porta
para os biólogos trabalharem com conservação, a partir da criação do Parque
Nacional do Superagüi e consegui”, comemora Guadalupe, que só ficou afastada da
unidade por um ano, quando ocupou a coordenação nacional das unidades de
conservação do Ibama, agora Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), criado a partir da segregação do Ibama, em 2007.
A vida no local de trabalho
A vida como gestora de uma unidade de conservação
traz consigo um desafio (permanecer no local onde se trabalha) que Guadalupe
conseguiu aproveitar a seu favor. Ocupando um quarto no alojamento no interior
do Parque, a bióloga pôde conhecer de perto as características de Superagüi e
contribuir com a sua implantação de seu plano de manejo, além de interagir
bastante com as comunidades do entorno e de dentro do Parque. Aos poucos,
conseguiu conhecer cada um dos moradores das 13 comunidades localizadas ao redor
do Parque e no seu interior – algo em torno de 1.000 pessoas que têm na pesca
artesanal sua principal fonte de subsistência.
Ela também colaborou, ao longo desses 24 anos, com
algumas pesquisas e trabalhos educativos para a conservação de duas espécies
nativas do Parque: os papagaios-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), cuja
revoada ao entardecer é um espetáculo à parte, e o mico-leão-da-cara-preta
(Leontopithecus caissara). Por muitos anos foi a coordenadora da espécie
Leontopithecus caissara dentro do Comitê Internacional para Manejo e
Conservação das Espécies de Micos-Leões. As duas espécies estão ameaçadas de
extinção e são endêmicas da Mata Atlântica, não sendo encontradas em nenhum
outro local do planeta.
Guadalupe ainda traz na memória outra conquista que
só foi possível porque passou a maior parte de seu tempo no Parque: o combate à
especulação imobiliária. O trabalhou consistiu na conscientização dos moradores
de Barra do Superagüi e na Ilha das Peças, comunidades situadas no entorno do
Parque, para que não vendessem os seus terrenos.
Como a região tem potencial turístico e possui 38
km de praias virgens, é comum os moradores serem procurados por empresários do
ramo imobiliário para vender as propriedades ou para construir casas de
veraneio. Diferente de outras áreas ao longo do litoral paranaense e mesmo
brasileiro, no Parque Nacional do Superagüi os próprios moradores são os
empreendedores, donos de pousadas, restaurantes, padarias e embarcações.
Sobre esses trabalhos envolvendo a proteção de
Superagüi, Guadalupe sente-se orgulhosa. “É um privilégio participar de
trabalhos que resultaram na conservação da unidade e pelo menos de duas
espécies, ameaçadas de extinção. É a minha contribuição com a conservação da
natureza”, reflete.
Apesar de seu nome e história confundirem-se com a
unidade de conservação paranaense, sua colaboração vai além do estado. Ela
atua, desde 1989, com a conservação em nível nacional, pois é conselheira
voluntária da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, sendo uma das
responsáveis por analisar projetos de conservação de várias partes do país que
concorrem ao apoio da instituição. Na região do Parque Nacional do Superagüi,
por exemplo, onze iniciativas já foram apoiadas por essa instituição.
Tanta dedicação, entretanto, fez com que Guadalupe
abrisse mão da sua vida pessoal. “Fiquei vivendo por muitos anos no Parque, com
saídas esporádicas, quase como um período de internação. Foi muito rico porque
vivi perto da natureza e convivi com as pessoas da ilha, mas perdi alguns
encontros familiares e não tive filhos”, afirma a bióloga, que vive um novo
momento, casada, e dividindo as tarefas, sem se lamentar. “O fato de
ainda estar à frente deste mesmo trabalho mostra que o meu sonho, de certa
forma, foi concretizado” afirma orgulhosa, completando: “ainda não terminei,
tem muita coisa por fazer”.
Parque Nacional do Superagüi
Localizado no litoral norte do Paraná, o Parque
Nacional do Superagüi ainda é pouco explorado por turistas. O nome do Parque
vem do tupi-guarani ‘so’o pira guy’ e significa, segundo pesquisa do biólogo
Fernando Straube, ‘lugar onde tem muita carne de peixe’. Desse modo, é uma
alusão às inúmeras espécies que habitam suas ilhas, como a das Peças e a Ilha
do Pinheiro.
A unidade possui 38 km de praias desertas, que
podem ser exploradas a pé ou de bicicleta. No Parque é possível observar a
revoada de papagaios-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) ao entardecer e também
os botos com seus filhotes no trapiche do Rio das Peças.
O acesso é feito somente por mar, a partir de
Paranaguá, numa viagem que pode levar até três horas. Os horários podem ser
confirmados com a Associação de Barqueiros do Litoral Norte do Paraná (www.abaline.com.br).”
O Editor desse blog em
Março de 2013 permaneceu durante uma semana em férias na vila de Superagüi e
recomenda a todos que gostam de natureza e passeios rústicos irem até lá.
Roberto J.
Pugliese
Presidente da Comissão de
Direito Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
Sócio do Instituto dos
Advogados de Santa Catarina
( Fonte= Diário do Litoral –
Guaratuba, Pr )
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