Memória nº71
Campanha: OAB Gurupi.
Em 1990 haveria eleições da
OAB. Segunda a legislação da época o mandato era de dois anos e se elegia por
cargo. Com a mudança da lei, o mandato passou a ser de três anos e a eleição
por chapa.
Depois de ser tesoureiro por
um mandato, três vezes secretário, inclusive duas vezes o mais votado da chapa,
na OAB-Sp, 83ª subsecção de Itanhaém, tendo mudado para o Tocantins, se
aproximou da diretoria da OAB em Gurupi.
E durante as negociações da
formação da chapa para disputar a eleição da 2ª. Subsecção da OAB-TO, em
Gurupi, ficou acertada que seria candidato à presidente, mas numa das reuniões,
foi jogado, para o cargo de secretário.
Chapa única, tudo acertado e
o descontentamento evidente de Lourenço. A reunião foi na sexta feira e no
sábado, incentivado por Luiz Tadeu, colega da Fafich onde ambos lecionavam,
avisou o candidato a presidente que não faria mais parte da chapa e sairia em chapa
distinta em oposição.
Com cuidado e muita malícia,
a chapa Participação e Descentralização
em oposição clara ao modo centralizador de administração promovido pelo
presidente candidato à reeleição, tinha Lourenço à presidência, na vice,
Furlan, advogado radicado no Estado há mais de vinte anos, colega de Lions,
paulista de Cardoso; a candidata à secretária era natural da cidade e como tesoureiro, Magdal,
militante do PMDB, também natural de Gurupi.
As eleições foram marcadas
para o final de Novembro, e a chapa do Conselho Seccional, presidida por
Augusto, candidato à reeleição, primo do candidato Gaspar, de Gurupi, tinha que
enfrentar a chapa de oposição, bancada pelo governador
Siqueira Campos.
Após a formalização da chapa,
um dos candidatos ao Conselho da Chapa de situação para o Conselho Seccional
foi ao encontro de Lourenço para ver a situação política e se tranquilizou que
a oposição era local e estaria apoiando a chapa da situação para o Conselho,
bancada pelo candidato ao governo em oposição ao governador.
A chapa de Lourenço era tida
como um azarão.
Solitário começou a visitar
os colegas. Primeiro em Gurupi, depois nas cidades da subsecção, cujo
território abrangia àquele tempo, área superior ao Estado do Rio Grande do
Norte em todo sul, no limite com Goiás.
No seu Fiat 157, o segundo
carro do casal, aventurou-se sozinho pelas estradas de barro do sul de
Tocantins. Saía pela manhã numa direção e ia parando nas cidades e visitando os
colegas, anotando os reclamos etc.
Assim foi à Figueiropolis,
Peixe, Alvorada, Palmerópolis, Jaú do Tocantins, Dueré, Formoso do Araguaia e
demais cidadezinhas perdidas no sul do Estado recém-criado...Visitou quase
todos os escritórios e a maior parte dos municípios da região abrangida pela
Subseção... Incansavelmente queria vencer e se dispôs a trabalhar sozinho em
busca de votos.
Muito interessante: Algumas
Comarcas àquele tempo já dispunham de Magistrado, órgão do Ministério Público,
Delegado de Polícia e até Defensor Público lotados e em exercício, porém careciam
de advogados com escritórios no lugar, dado o isolamento e a falta de estrutura
social. Bem pitoresco.
Nos escritório escutava os
colegas e as reclamações principais.Pedia que fosse votar, e se o tempo
estivesse ruim, que fosse na véspera, pois as estradas costumam ficar
intransitáveis naquela época do ano.
Seus companheiros de chapa também telefonavam e faziam visitas a colegas
com endereço em Gurupi.
Gaspar, presidente e
candidato a reeleição praticamente estava todo dia no noticiário da TV, falando
sobre isso ou sobre aquilo. Lourenço só teve uma oportunidade, quando parado no
semáfaro da avenida Goiás, foi abordado por um repórter seu amigo.
Fazia apenas dez meses que
morava no Tocantins e suas relações não eram tão extensas como as do adversário,
que nascido e residente em Gurupi, circulava melhor. Ademais era candidato à
reeleição.
À véspera do pleito a TV
Anhanguera pedira para entrevistar ambos os concorrentes. Como era esperado,
Gaspar de gravata, terno e com a pose que lhe era própria, gravou sua
entrevista no escritório, tendo nos fundos livros e toda a pintura de uma banca
de advogados.
Lourenço chamou a TV à sua
casa, com a presença de integrantes da chapa e apoiadores que se manifestaram
favorável às propostas. No alpendre de sua residência, com a presença de
aproximadamente 30 colegas, expos de forma diferente o projeto de
descentralizar e fazer com que todos participassem da administração.
A reportagem foi impactante
revelando a diferença de posturas entre ambos os candidatos. A TV mostrou o
jardim e os colegas agrupados no terraço, de forma descontraída, revelando
forte união.
Ficou acertado que os colegas
que viessem de fora seriam recebidos pelo candidato à vice que os levaria para
almoçar. Também ficou acertado que os membros da chapa teriam uma fita vermelha
presa à camisa ou junto ao braço... enfim, seriam identificados pela fita e todos
que haviam prometido votar, ao chegarem na OAB, então com sede nas dependências
do Forum de Justiça, também receberiam uma fita e seriam convidados a
portá-las, de modo que, alguns constrangidos, por ter prometido votos às duas
chapas, ficavam atônitos...
O resultado foi zebra verde, amarelo, azul e branca...
para a situação, que não imaginara a organização da oposição. Com apoio dos
advogados imigrantes, já maioria naquele tempo de criação do Tocantins,
Lourenço venceu com a folga de dois votos para cada três...
(...)
Recorda-se que após a
apuração ligou para São Paulo dando a notícia ao seu pai, que também não
acreditava que a chapa teria sucesso. Depois foram a um bar na entrada da
cidade, junto à Belém-Brasilia comemorar...
Merece recordar também que a
posse foi solene e festivamente celebrada, tendo repercussão em todo o Estado
do Tocantins.
Roberto J. Pugliese
Membro
da Academia Eldoradense de Letras
Membro
da Academia Itanhaense de Letras
Titular
da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras
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