24 março 2014

Aventuras na água. ( memórias nº 78 )


Memórias nº 78
Rio do Poço.
 
Espremido entre o manguezal e o morro, junto à estrada de ferro, o rio do Poço é um bucólico leito, sem muita profundidade e largura que nasce como um filete líquido  no Cibratel e, serpenteando para lá e para cá, passa atrás do Mine-Golf, atravessa o centrinho do Belas Artes, cruza com a ferrovia nas proximidades da antiga parada do Km. 60, e após algumas voltas, deságua mansamente no rio Itanhaém, tornando-se o seu último tributário.
 
Certa manhã resolveram navegar por ele. Maré cheia, o Camarão, o bote de inflar, cor de abóbora, para seis passageiros, movido pelo Honda quatro tempos, à gasolina, 7 hp’s, pilotado por Lourenço, adentrou cuidadosamente pelo leito desconhecido. Regininha, Gil e Lourença esposa.
 
Cuidadosamente avançaram tranquilamente observando as raízes expostas dos mangues, os ninhos de garças e chegaram à parada do Km. 60, onde rio, já bem mais estreito, forma um cotovelo em direção oposta à ferrovia e segue sempre esprimido pelo mangue.
 
Logo surge a primeira ponte e os navegantes ultrapassam a ferrovia, que da margem direita dali em diante segue pela margem esaquerda.
 
Mais uma curva e os fundos de casas atingem o leito, nesse ponto, sujo de lixo e esgoto residencial. Já àquele tempo, a violência ambiental começava a destruir a Amazonia Paulista...
 
Os quatro navegavam vagarosamente apreciando a paisagem agora urbana, próximo à Praça Zilda Natel, no centrinho do bairro. Estão próximos ao movimento dos automóveis que da Avenida Peruibe cruzam pela ponte em direção a então Avenida 31 de Março. Barulho de zona urbana. Acabam os pássaros, o mangue, o silencio que então era quebrado apenas pelo barulho do motor.
 
A ponte tem o vão não muito grande. Uns seis metros talvez, mas é larga o bastante para as duas pistas e as calçadas. Com a maré alta, torna-se baixo para que atravessem. É escura. Assusta.
 
Com o motor desligado e suspenso, para evitar algum tronco, pedra ou obstáculo, decidem atravessar e com duas ou três remadas, estão do outro lado. Passaram semi deitados e sentem-se vitoriosos.
 
Retomam a navegação. Seguem pelas curvas em direção a nascente. Cada vez mais estreito próximos ao Mini-Golfe torna-se impossível prosseguir. O rio do Poço é um córrego com pouco mais de um metro de largura...
 
(...)
 
Passeio inesquecível que, iguais tantos e tantos outros, os dois casais, ao longo de convivência sadia e amiga, oportunizaram essa e outras lembranças.
 
Noutra ocasião, estavam os quatro no Rio de Janeiro e foram a um clube de mineiros. Um pessoal de Minas radicado no Rio tinha nas proximidades da Restinga da Marambaia, perto à Pedra da Guaratiba, adquirido uma ilhota fluvial, e lá, ergueram um clube bem familiar.
 
Uma ilha de mineiros na qual o tio da Regininha era um dos sócios e mineirinho de BH, residente no Rio, como os demais daquela sociedade fechada.
 
O acesso era através de canoa. Um ribeirão com quase 20 metros de largura isolava a ilha da estrada. Uma canoa que era do clube e ficava à disposição dos sócios e convidados. E por conhecerem um sócio, foram passear por lá.  Atravessaram e passaram algumas horas no bar, na piscina, jogando conversa fora...
 
No retorno, no meio do rio, Gil fez com que a canoa virasse e todos fossem repentinamente para água naquela tarde calorenta de verão. Junto a canoa de um só tronco nadaram os quatros até a margem...
 
Roberto J. Pugliese
Membro da Academia Eldoradense de Letras
Membro da Academia Itanhaense de Letras
Titular da Cadeira nº 35 – Academia São José de Letras 

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