( Memória nº 41 )
Acidente na região da Folha Larga.
Lourenço viaja pelas rodovias do litoral de São Paulo desde
criança. Antes com seu pai e depois que
se tornou habilitado oficialmente, no volante, ora indo à Itanhaém
passear, ora à trabalho, por toda a região.
Conhece todas as vias que
atravessam a Serra do Mar, do planalto para o litoral paulista. Já rodou pela
antiga estrada que Jacupiranga segue para o Porto de Cubatão, via Rio Branco;
pela tradicional rodovia estadual asfaltada; a SP 55 em seu inteiro trajeto, as
ligações de Iguape à Miracatu e a Pariquera Açu. Conhece e já viajou pela Via
Anchieta, pela Imigrantes, pelo Caminho do Mar e pela rodovia auxiliar de obras
que serviu de base para construção da Imigrantes. Também já viajou pela
Mogi-Bertioga, pela Tamoios e pela Oswaldo Cruz. Não contente, também chegou à
Paraty, no Rio de janeiro, por Cunha.
Já viajou durante o dia, à
noite e pelas madrugadas, indo e vindo de Cananéia para São Paulo, de Iguape
para Itanhaém, de Ubatuba para Santos... Enfim, já rodou com chuva e tempo
seco, com ou sem boa visibilidade, com ou sem transito e nas mais variadas
condições próprias e impróprias para tanto.
Sempre andou por lá sem
receio algum. Mas o mundo mudou. Se tornou perverso. Cruel e essa maldade tão disseminada
poderia ter chegado às rodovias do Vale do Ribeira.
Era uma noite aprazível.
Talvez oito meia ou nove horas.Seguia
para Cananéia onde no dia seguinte teria alguma agenda profissional à cumprir.
Saíra de São Francisco do
Sul, onde residia, e já estava na rodovia paulista que da Br 116 segue para
Cananéia, passando por Pariquera-Açu. A cidade foi a sede da Sudelpa, tem o
Hospital Regional e o presídio feminino, graças a intervenção política de um
velho cacique muito laborioso e esperto, que sempre lutou pelo seu município:
Ivo Zanella.
Já havia descido a serrinha
que existe, iniciando a baixada que da divisa municipal se estende até o mar de
Cubatão. Estrada vazia viajava tranquilo em velocidade boa, quando próximo
talvez à Fazenda Folha Larga, viu no meio da pista, há uns mil metros talvez,
um aglomerado de pessoas e veículos, como se houvesse ocorrido um grave
acidente.
Diminuiu abruptamente a
velocidade para ter tempo de raciocinar e agir rápido se fosse preciso. Via que
tinha veículos parados no meio da pista, muita gente e outros estacionados em
direção a Pariquera-Açu e outros em direção à Cananeia.
A medida que se aproximava
percebeu que alguns dos presentes fizeram sinal para que parasse. Outro com um
corpo na mão parecia caminhar em direção de um dos automóveis. Viu um cachorro
morto, u’a moto caída e um quadro bem sinistro.
Não atendeu ao reclamo. Havia
muita gente e muitos carros. Não seria ele que correria o risco de um assalto.
Fazendo um esse – S, desviou dos automóveis, da moto, das pessoas e com todo
cuidado seguiu sem parar e imprimiu alta velocidade fugindo de tudo e de todos.
Ficou abalado. Achou que era
um assalto. Ficou muito triste porque sempre andara a qualquer hora do dia e da
noite pelas redondezas de Cananeia, Iguape e região sem se preocupar e agora
tudo mudara... Ao ingressar na rodovia municipal, que liga a estrada estadual à
Ponte, percebeu que um automóvel o seguia.
Seguia ou perseguia. A
Rodovia que leva o nome do ex prefeito José Herculano Rosa ( Pique ) é deserta,
e na parte continental bem sinuosa. Não
sabia. Temeu pela integridade física e patrimonial. Correu bastante. Fugiu. E o
automóvel atrás também imprimia velocidade que revelava persegui-lo.
Lourenço não entrou em
pânico. Mas estava com medo e só não tinha mais porque conhecer bem a estrada,
que é estreita, sem acostamento e com a pavimentação razoável.
Atravessou a ponte. Ingressou
na ilha e como dizia o velho Adhemar de Barros, fé em Deus e pé na tábua...
Ao chegar à cidade foi direto
para o Restaurante do Silencio e
comentou com as pessoas que estavam por lá, inclusive o garçom e fregueses.
Ligou para o compadre Aroldo Xavier e disse o que acontecera, quando foi
surpreendido pela noticia.
- Estou na estrada atendendo
um acidente. Depois vou tomar uma
cerveja com você. ( !!!)
( ....) No restaurante Aroldo
esclareceu: Era um acidente e o temor de Lourenço não se justificou
Noutra ocasião, logo que
obteve a carteira nacional de habilitação, ficara em Itanhaém durante o
carnaval e após o último baile iria para São Paulo. Gil, saudoso amigo e
companheiro também iria.
No meio do baile, foram
embora. As malas no carro, só fecharam a casa e zarparam. Estrada vazia. Alta
madrugada. Rumaram pela rodovia Padre
Manoel da Nóbrega, então com pista única e na altura de Pedro Taques, seguiram
pela variante, ao invés de continuarem para a sede municipal de Praia Grande,
atravessarem a ponte pênsil, seguir para São Vicente e rumarem pela Via
Anchieta.
Essa variante, que hoje é tem
duas mãos de direção em leitos distintos, era um filete asfaltado e bem
deserto. A altura de Samaritá, um bairro à época, perdido no manguezal, onde a
Ferrovia Sorocabana tem o entroncamento, com o desvio que segue para o porto de
Santos, o que segue para a Capital e o que vem de Juquiá, há uma ponte,
evitando a passagem de nível.
Lá, no alto da ponte surge
um alguém, todo ensanguentado, no meio
da estrada pedindo socorro, meio deitado, meio em pé... Lourenço não teve
dúvida, jogou o carro na outra mão de direção, desviando e seguindo viajem e
imprimindo maior velocidade... O pedinte imediatamente se levantou e voltou
para um canto... Desaparecendo do espelho retrovisor em poucos segundos...
Provavelmente seria um
assalto. Isso em 1968 ou 1969... Numa madrugada de terça feira de carnaval que
terminava...
Numa outra ocasião, já
casado, ia com a esposa para Paraty e no principio de madrugada, na deserta
Rio- Santos, entre Ubatuba e a divisa do Estado do Rio de Janeiro ouviu algo
bater no capô do carro. Percebeu que nada de anormal acontecera. Sem titubear seguiu
viajem até encontrar, próximo à Paraty, um posto da policia Rodoviária Federal
e estacionar para examinar. Era um morcego morto.
Enfim, Lourenço também se
recorda que ainda solteiro retornava de Iguape, com a namorada, após passarem
um sábado na Ilha Comprida, quando na subida da serra, pela estrada velha,
ainda de terra, furou um dos pneus... Não deu bola: Seguiu viagem até a Vila
São José, junto a BR116 para trocar o pneu furado.
A decisão fez perder o aro,
que amassou e se tornou imprestável. Mas não se arrepende, pois além do
esforço, correria algum risco e temia ficar por lá...
Roberto J. Pugliese
presidente da Comissão de Direito
Notarial e Registros Públicos –OAB-Sc
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