14 janeiro 2012

Iguape, sp. abandonada.

Desabafo de um iguapense preocupado.

Iguape no abandono do tempo e da história ( Diário de Iguape. com )


“Eu não escrevo para matar o tempo, nem para revivê-lo; escrevo para viver e reviver” (Octavio Paz)
de Antonio Rochael Jr.

Quem viaja pelo interior do País, pelo Estado e mesmo pelos municípios mais próximos de nós, pode muito bem observar que existe uma divisão entre dois sentimentos.
Para analisarmos melhor esta comparação, exemplificamos: o encanto com o nosso rico Patrimônio cultural, histórico, religioso e ecológico e a tristeza pela qual nós nos encontramos hoje.

Vemos antigas igrejas, construções tipicamente coloniais e com todo este arsenal de monumentos, ou seja, casarios que outrora foram dos grandes políticos, ricos empresários e célebres iguapenses continuam hoje completamente abandonados e outros numa verdadeira ruína. Quando chamo a atenção destes fatos para o nosso leitor inteligente, entendo que destas edificações emana a sensação de pertencermos a uma comunidade cívica única, porque o Patrimônio histórico de uma cidade contemplada pelo IPHAN precisa sobreviver ao tempo.
As bases fundamentais, isto é, os traços dos casarões senhoriais, as ruínas em grande número, os engenhos de arroz, salgas de peixes, são expressões simbólicas dos alicerces da nossa riqueza e cultura que ficaram para trás nos vestígios do passado.

O que mais nos preocupa agora, como cidadãos iguapenses em particular, são as edificações coloniais belíssimas, não só pela antiguidade, mas por serem os primeiros exemplares de uma produção artística e arquitetônica genuinamente colonial portuguesa.

Hoje, o risco que correm desses monumentos desaparecerem também, resulta da conseqüência de alguns vícios da nossa administração pública. Temos o compromisso como cidadão de lutar, de escrever, de falar, de fazer transparecer a preservação da memória nacional e de todo patrimônio iguapense. Infelizmente, num município como o nosso, carente de tudo, dificilmente o tema faz parte das agendas de governo municipal e legislativo. Sem desmerecer os esforços ideológicos de entidades federais como o IPHAN ( Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional), pensamos também, que são as comunidades locais as maiores responsáveis pela manutenção de seus monumentos, porém somos ignorados. Faltam políticas públicas mais resistentes, mais abertas, mais corajosas, eficientes e realistas neste sentido. Cidadãos “mais iguapenses” e que se dizem amar verdadeiramente mais esta terra do que nós, o povo, procurem abrir os olhos e fazer alguma coisa por esta terra enquanto há tempo. Quando os desastres acontecem e as perdas são irreparáveis, há o clamor que não reconstrói e nem sequer, tem servido para reorientar os caminhos. Damos como exemplo o prédio do Correio Velho; Sobrado dos Toledos (do Santo); Igreja de São Benedito; Igreja do Rosário (hoje Museu Sacro Municipal (já em extinção); Chafariz da PRAÇA DE São Benedito; Prédio da antiga indústria Pirá; Prédio da Única (Matarazzo); Engenho do Itaguá; Fonte do Senhor (de Cima); Hospital Feliz Lembrança (Santa Casa); Prédio da Maternidade anexo a Santa Casa; Morro do Cristo Redentor; o Ginásio de Esportes “Pedro Rodrigues de Oliveira Filho”, em homenagem ao valoroso e apaixonado iguapense, vemos Iguape com dinheiro jogado no lixo nessa importante obra, hoje apenas como depósito de sucatas e abrigo de pombos e mendigos. Estádios de futebol que nasce e morre ao mesmo tempo, levando a desintegração dos “times” amadores, uma das riquezas da nossa juventude à desilusão e às desesperanças.

Para onde foi a nossa Banda Musical “Aquilino Jarbas de Carvalho” de jovens iguapenses, que tanto sucesso e orgulho mostraram a este país?

A Orla do Mar Pequeno que deveria ser o Cartão Postal da cidade, parcialmente em abandono, inclusive os parquinhos das crianças. Constroem-se sanitários e velórios sem projetos e logo são embargados e destruídos; ficando no meio das vegetações com o nosso dinheiro enterrado, num desperdício total e de descaso. Uma série de residências senhoriais e sobrados tão nobre que o tempo vem apagando. Tudo aquilo que a ganância dos homens fizeram modificar preservam-se na incompetência.

O que realmente liberta uma comunidade é, sobretudo, a capacidade de valorizar e a compreender sua trajetória histórica para a partir daí, se auto-reconhecer no passado e tornar-se agente ativo na construção do próprio futuro que já estamos vivendo.

De tudo que acontece por aqui e de tudo que acabamos de alimentar, de analisar e escrever ficarem resumidos somente no pensamento, no papel, fora das ações e no blá…blá..blá….dos nossos políticos, Iguape, terra dourada e idolatrada “não se salva” se perpetuará apenas, no abandono do tempo e da sua história.

Antonio Rochael Jr. é professor e sociólogo. antoniorochael@gmail.com

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