O Colégio
de São Bento junto ao Largo do mesmo nome, ladeando o Vale do Anahangabaú e o
velho Viaduto Santa Efigenia, por volta de 1966 ou 67, abrigava nos seus cursos
cerca de aproximadamente 800 alunos.
Os anos
eram de chumbo, com a ditadura sofrendo os primeiros reveses, inclusive já com
movimentos libertários armados urbanos.
Ataques a
bancos, hospitais, escolas e lugares públicos indistintamente, variados e
constantes, provocavam pânico à população e enfraquecia as estruturas do regime
que era forte.
À frente
do colégio, no centro da praça, a Telesc à época a Cia. Telefônica de então,
mantinha uma construção com aparelhos telefônicos para uso público.
Os alunos
dos cursos científico e clássico, durante o recreio tinham liberdade de sair
das dependências do colégio para se distrair ou fazer o lanche.
Numa das
salas, na qual ele, que recorda com saudades do tempo que vai longe, havia uma
turma bem unida. Eram aproximadamente uns quinze alunos que, aproveitavam o
recreio para comer e se divertir.
Às vezes,
iam à Rua de São Bento, logradouro que parte do Largo do mesmo nome em direção
sul, paralela ao Vale do Anhangabaú, e lá, após comerem e beberem, algum deles
enchia de água um copo de papel, e dispunha em pé, no meio da via pública, que
proibida para o trafego de veículos, tinha fluxo de pedestre muito intenso.
Após
fixarem no meio da rua o copo cheio d’água, dissolviam a aglomeração de alunos
que cercavam o local enquanto se instalava o copo e voltavam à porta da
lanchonete Dixon, ou algo parecido, e ficavam aguardando quem do anônimos
transeuntes iria derruba-lo, pisando ou chutando e se molhando. E assim, sob aplausos ou vaias,
assistiam ao incidente, que nem sempre era bem aceito pela vítima...
Outra
lembrança inesquecível era que uma das salas de aula, no segundo pavimento,
tinha suas janelas voltadas para um telhado. Em determinadas aulas, de certos
professores menos atentos, os alunos faziam uma rodinha junto ao professor o
distraindo, de forma que um aluno saia pela janela para ir fumar no telhado.
Certa
vez, por razões que não se lembra, um
dos colegas foi esquecido, talvez propositadamente, no telhado...
Outra
lembrança que guarda na memória era a idéia que um grupo de alunos do mesmo
curso e sala, valiam-se da situação politica da época para passar trote e se
livrar da aula. Não era sempre, para não dar na vista.
Paulinho,
filho de um locutor de rádio e apresentador de programa de televisão, muito
malandro, cada 30, 40 ou 60 dias, junto com mais dois ou três, iam ao bureaux
da telefônica em frente ao mosteiro durante o recreio, e disfarçando o timbre
da voz, ligava para o Colégio, dizia que era da Organização Politica que
inventava na hora e, com energia determinava que em 30 minutos deveria ser
esvaziada a escola, pois uma bomba iria explodir nas suas dependências...
Aliás, já
àquela época, São Paulo era uma metrópole vibrante e crescente. E os movimentos políticos atuavam com intensidade
na metrópole, com ataques à bancos, emissoras de rádio e televisão, provocando
insegurança geral, inclusive a empresários e autoridades públicas, muito mal
vistas, por sinal...
Com o fim
do recreio e retorno dos alunos, as aulas eram reiniciadas na hora marcada e os
alunos, primeiros dos cursos fundamentais, eram conduzidos de forma ordeira e
rápida para saída. Eram todos dispensados, chamada a policia e... as aulas
daquela manhã suspensas.
Bons tempos
de traquinagens inocentes. Tempos duros da ditadura cruel que o povo brasileiro
sofreu. Lembranças tiradas das gavetas das memórias que guarda com carinho,
mesmo tendo esquecido detalhes e minucias de fatos daquele anos de chumbo.
Roberto J. Pugliese
www.pugliesegomes.com.br
Conselho Editorial (inspirado) Carlos H. Conny, presidente; M. Covas, Miguel S. Dias, W. Furlan, Edegar Tavares, Carlos Lira, Plínio Marcos, Lamarca, Pe. João XXX, Sérgio Sérvulo da Cunha, H. Libereck, Carlos Barbosa, W. Zaclis, Plínio de A. Sampaio, Mário de Andrade, H. Vailat, G. Russomanno, Tabelião Gorgone, Pedro de Toledo, Pe. Paulo Rezende, Tabelião Molina, Rita Lee, Izaurinha Garcia, Elza Soares, Beth Carvalho, Tarcila do Amaral, Magali Guariba, Maria do Fetal,
18 fevereiro 2012
Colégio de São Bento. ( memória, 01 )
Advogado, paulistano, professor de direito, defensor de direitos humanos. Bacharel pela PUC -SP em 1974, pós graduado em Direito Notarial, Registros Públicos e Educação Ambiental. Defensor de quilombolas, caiçaras, indígenas, pescadores artesanais... Edita o Expresso Vida.
Autor de diversos livros jurídicos.São incontáveis os artigos jurídicos publicados em revistas especializadas, jornais etc. Integra a Academia Eldoradense de Letras,Academia Itanhaense de Letras. Titular da cadeira nº 35 da Academia São José de Letras. Integra o Instituto dos Advogados de Santa Catarina. É presidente da Comissão de Direito Notarial e Registros Públicos da OAB-Sc. Consultor nacional da Comissão de Direito Notarial e Registraria do Conselho Federal da OAB.Foi presidente por dois mandatos da OAB-TO - Gurupi. Sócio desde 1983 do Lions Clube Internacional. Diretor de Opinião da Associação Comercial de Florianópolis. Sócio de Pugliese e Gomes Advocacia. CIDADÃO HONORÁRIO DA ESTANCIA DE CANANÉIA, SP.
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Residente em Florianópolis.
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