29 abril 2012

O capital internacional repudia a desapropiação da YPF. ( O PSDB também )



Por que as oligarquias da América Latina, neste caso a argentina e a brasileira, são tão apátridas, tão miseráveis? Por que têm tanto ódio pelos seus respectivos países que durante séculos exploraram e ainda exploram brutalmente, em benefício próprio e em benefício de países centrais que luzem “poderosos”? Europa ocidental passou-se séculos invadindo, roubando, guerreando, matando de miséria e exílio milhões de filhos desta Nossa América, e construiu com nossa riqueza a opulência que dilapida hoje. Se alguém quisesse esquecer que ainda existe essa oligarquia historicamente atrasada, lá estão seus veículos de promoção de ideias e negócios, fantasiados de jornalismo: meros tratantes a serviço de patrões estrangeiros.



Haveria algo mais legítimo que um país independente, soberano, administre seus bens estratégicos? Não é legítimo que um país cesse a vigência de acordos nefastos que infelicitam sua gente, especialmente e sempre os trabalhadores, os desempregados, os pauperizados, aqueles todos que a oligarquia usa para depois tratá-los como deficientes sociais? Ou seja, todos nós. Claro que é legítimo recuperar o que é, ou deveria ser, de todos. Os que acusam como “ilegítima” essa atitude (que permeia o debate sobre a decisão de 10 dias atrás do Executivo argentino, que recuperou o controle de 51% da YPF): Espanha, a União Europeia e os Estados Unidos, são a cara do neoliberalismo mais podre e fracassado, e revelam que, essa medida, mesmo que pequena ainda, se vê como uma afronta à lógica do imperialismo.



É preciso entender que segundo a psique da União Europeia, culturalmente estagnada em corredores de monarcas delirantes e caça fortunas, igrejas medievais, generais conquistadores e bancos corruptos, não deveríamos deixar de agir como escravos, e nossas pátrias não deveriam ser outra coisa que um prêmio de guerra. O capitalismo e o imperialismo conservam, século trás século, seu combo de dirigentes, que desempenham múltiplas funções teatrais como “monarquistas, democratas, republicanos, ocidentais e cristãos”, brincando de filhos elegidos, matadores de ursos, elefantes e seres humanos, por permissão divina. A corte capitalista da Casa de Índias não evoluiu um milímetro, e pretende passar indemne através das centúrias, como se o mundo não se mexesse, o povo não despertasse. As ideias que retorcem O Estadão e La Nación, Globo e Canal 13, alcançam a compreensão dos trabalhadores, e estes as apoiam majoritariamente. Essa lógica europeia de hospício não suporta qualquer insurgência, mesmo que ainda seja dentro dos marcos burgueses e capitalistas, como no caso pontual da medida argentina. Qualquer moderação do neoliberalismo ativa as alarmes deste capitalismo especulador, aventureiro, saqueador. No entanto e na prática, essa lógica dos impérios não pode ser nunca compreendida, aceita, assimilada pelo produtor das riquezas, o trabalhador.



Há setores da esquerda que avaliam como “populista” a medida da presidenta Kirchner. Pode ser, porém, até mesmo a compreensão do termo populista está entrando na mesa de discussão. Populismo, progressismo, são motivos de uma discussão teórica necessária. Também há que aceitar como válidas as críticas a estes governos, que, é bom recordar, majoritários já na América do Sul, goste ou não, contam com aceitação histórica dos eleitores, mesmo que a máquina publicitária siga, em geral, nas mãos daquela oligarquia gerenciada pela Sociedade Interamericana de Imprensa –SIP. Essas críticas legítimas e necessárias de alguns setores da esquerda não podem chegar a contradizer objetivos e princípios históricos da classe, e adubar o terreno envenenado dos interesses imperiais. Há que criticar sem concessões, mas, não é possível continuar virando as costas aos dados da realidade: a maioria dos trabalhadores da Argentina e do Brasil apoiam seus governos, imperfeitos sim, frágeis, burgueses, isso tudo, mas, certamente capazes de catalisar os anseios prmários da massa trabalhadora, desempregada, excluída. Não podemos aprofundar o risco de tornarmos cada reflexão num jogo intelectual entre os perímetros das universidades e dos botecos de classe média. Se o aparelhamento dos governos tem imobilizado, sobretudo no Brasil, à classe trabalhadora, transformando inclusive o 1º de Maio numa gincana de sorteios, festa e prêmios, também o discurso pretensamente intelectual e de linguagem improdutiva das esquerdas mais críticas é responsável dessa quietude, dessa inviabilidade dialética. Reconhecer que há que superar os desvios ideológicos destes governos, assumindo conjuntamente a deficiência da relação das esquerdas com o trabalhador, a democracia de classe e a mobilização popular mais radical e independente, é decisivo. O cenário de perdas constantes de conquistas históricas dos movimentos sociais em geral e dos sindicatos em particular, obriga a repensar o discurso, as posições, as práticas e a tarefa em discussões como a nacionalização, antes de pegar gritos em contrário, entanto a massa trabalhadora aplaude majoritariamente. Ser vítima excludente nunca é bom, é só dramático. Abordar eticamente as contradições que os trabalhadores entre nós, de forma fluida e democrático é determinante para a transformação da sociedade.

Esse Outro Mundo Possível que buscamos com enormes dores está se parindo. Não há a menor possibilidade de comparar estes governos da Argentina, Brasil, Equador, Bolívia e Venezuela com todo o anterior à eleição primeira do Presidente Hugo Chávez e o levantamento popular que tirou do poder ao presidente De la Rua na Argentina. Vivemos outra época, outra realidade, há novos paradigmas que precisam ser aprofundados com a recuperação das empresas estratégicas para administração soberana, que reclamam uma relação cada vez mais fraterna e alerta dos povos e dos governos da Nossa América, e que demandam outra vez uma classe trabalhadora ativa, protagonista, nas ruas, reivindicando que não se privatize nada nunca mais, e que se desprivatizem os espaços (muitos) dos governos que ainda servem às oligarquias e à especulação nacional e internacional. Para isso o Papel Internacional da Luta da classe Trabalhadora, dos estudantes, dos excluídos deve recuperar o protagonismo, na região e no mundo. A recuperação parcial de YPF, o protagonismo dos governos da área, o controle e fiscalização democrática dos mesmos (ainda débil), a confiança aos poucos recuperada e a dor das oligarquias e seus publicitários, indicam que mesmo aos trancos vamos por um caminho instigante, atraente e, quem dera, libertador. Usemos convenientemente este 1º de Maio de todos nós para, entre broncas e alegrias, exercitar a reflexão e preparar a mobilização transformadora.
 ( Por Raul Fitipaldi. )


Nenhum comentário:

Postar um comentário